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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Leituras, reminiscências e vozes do passado


Fui fazer um visita ao blog tanto mar da poeta Líria Porto. Lá, li o poema Pedregulho. Um belo texto. Uma coisa leva à outra e lembrei-me de uma crônica de uma amigo nosso, meu e da Líria, Wanderley Soares. Soares é jornalista do jornal O Sul, em Porto Alegre. Mas, houve um tempo, quando não estava assolado pelo trabalho de escrever sobre segurança pública, escrevia poemas, contos, crônicas. Transcrevo o texto que o Pedregulho da Líria me fez ouvir as vozes do passado.

Nós: águas e pedras
por Wanderley Soares

Nós, águas e pedras

Das águas mansas de lagos e rios, são longas, quase silentes e ocultas, as venturas. Não revelam, sem castigo, aos aprendizes de navegadores, suas delícias, seus baixios, suas neuroses, seus abismos devassos. Quando em vestes de megeras, têm o toque das fadas. Ao se materializarem em Vênus, contêm o veneno das tarântulas. Seus códigos não são definitivos. Como no cosmo, nada nelas se eterniza. São insondáveis as águas mansas e, por isso, assola-me o temor da mansidão dos teus olhos.
Das águas frementes dos oceanos, não são velados seus perigos, suas correntes, seus instintos invasores. Não são ocultas as baías, as áreas de calmarias, as ressacas, os romances obscenos com os rochedos. Mas marinheiros, viajores de todos os mares, sabem que nada é definitivo nos códigos dessas águas que parecem tão francas, tão reveladoras. Elas têm os mesmos cúmplices das águas mansas. São os ventos que se vão e tornam em horas não marcadas, ora sóbrios, ora borrachos; são as nuvens, ora a adornar os céus, ora a ocultar o sol e as estrelas; são as tempestades errantes. São insondáveis as águas ruidosas e, por isso, assola-me o temor das imensas vagas da tua paixão.
As pedras que vemos por aí a rolar, têm vida longa. Elas testemunham, passivas, seus próprios destinos e os destinos daqueles que ora as fustigam, como os ventos assustadores, ou daqueles que ora a acariciam, como a brisa enigmática vinda dos lagos e rios ocultos entre os vales. E rolam a pedras, sem dor, numa viagem cósmica de cometa sem órbita.
Nunca sei quando estás por chegar a mim como uma tempestade, como um tornado. Nunca sei quando estás por chegar a mim como um lago ou como um rio brando. Assola-me, por isso, o temor de, como uma pedra, me perder de ti e não morrer.
As montanhas, anciãs e sábias, gozam e sofrem, a um tempo só, todos os tempos em todas as eras. Em seus alcantis, do sopé à coroa, castelos foram construídos, reis reinaram sobre todos os restos, pois aos restos sobra a planície em que se aninham os párias. E todos os que nas montanhas reinaram, olvidaram que eram as montanhas, apenas as montanhas, que reinavam para todos os tempos, em todas a eras. E se quedaram e se quedam os que ilusoriamente reinaram e reinam.
Trazes tu, de outros tempos, o estigma das montanhas. Assola-me o temor, por isso, de me quedar de ti, da coroa ao sopé, e na planície restar.

Para pensar


DEBATE ABERTO

O ódio da mídia e a primeira vitória de Lula

O rancor da mídia corporativa tem que ser contemplado como pano de fundo de uma grande derrota. Suas ameaças só não são trágicas porque, ao arreganhar os dentes, a grande imprensa introduz notas burlescas no discurso que se pretendia ameaçador.

Gilson Caroni Filho

Se a deontologia do jornalismo não contempla a divulgação de matérias partidarizadas como se fossem notícias apuradas em nome do leitor/telespectador, o telejornalismo brasileiro, principalmente o da Rede Globo, anda precisando redefinir qual é a natureza do seu verdadeiro ofício. Que fato objetivo deflagra tanta empulhação em horário nobre? Que registro simbólico almeja sua busca de sentidos? Qual a necessidade de construção permanente de imagens desfavoráveis ao governo e, em especial, ao presidente da República? Enganam-se os que pensam que as respostas a essas questões residem apenas nas próximas eleições. Lula, por seu significado histórico, representa uma fratura bem mais profunda do que pode parecer à primeira vista.

Ao obter mais de 30 milhões de votos em 1989, o ex-líder sindical apareceu como condensação das forças sociais que se voltavam para a demolição tardia do antigo regime. Contrariando prognósticos de conceituados analistas, sua candidatura teve gás suficiente para enfrentar as máquinas partidárias de velhos caciques. Mesmo derrotado por Collor, que representava a reprodução do passado no presente, o desempenho de Lula prenunciou, de forma categórica, o fim de uma “democracia” que só era possível mediante pacto de compromisso entre as velhas elites políticas, civis e militares. Essa foi sua primeira vitória. E a Globo disso se deu conta.

O embrião de um novo espaço histórico, capaz de conferir peso e voz aos de baixo na sociedade civil, na cultura e no arcabouço estatal, estava lançado. Com uma indiscutível capacidade de antecipação histórica, a família Marinho, que construiu seu colosso midiático como um Estado dentro do Estado- e muitas vezes acima dele- pressentiu o ocaso dos dias gloriosos. Como principal aparelho de legitimação da ditadura militar, as Organizações sempre vislumbraram a democracia como processo fatal à sua supremacia. E essa era uma avaliação correta. Deter o movimento profundo que vinha das urnas seria impossível.

A centralidade de Lula e do Partido dos Trabalhadores no cenário político era o avanço do cidadão negado, desde sempre, em sua cidadania. A construção da nova história objetivaria também o significado das eleições seguintes. Até a vitória em 2002, o acúmulo de forças trouxe à cena as esperanças políticas das classes excluídas. O rosto sofrido, que se contrapunha tanto à estética das modernizações conservadoras quanto à ética do neoliberalismo rentista, já não temia as bravatas e espertezas do adversário.

O rancor da mídia corporativa tem que ser contemplado como pano de fundo de uma grande derrota. Suas ameaças só não são trágicas porque, ao arreganhar os dentes, a grande imprensa introduz notas burlescas no discurso que se pretendia ameaçador. O diagnóstico que denuncia o fim da festa sai, ainda que codificado, dos débeis sustentáculos da credibilidade que lhe sobrou junto a setores protofascistas da classe média.

Ao criminalizar movimentos sociais, criticar a política externa tentando estabelecer paralelos entre Caracas e Tegucigalpa, e censurar premiações internacionais recebidas pelo presidente, o jornalismo produzido vai desenovelando a história da imprensa brasileira com impecável técnica televisiva.

Resta-lhe o apoio de uma direita sem projeto, voraz, cínica e debochada. Esse é o único troféu que ostenta em 2010, após ter sofrido o baque inaugural há 21 anos. Na década de 1980, ainda valia editar debates e fazer uso político de seqüestro de empresários. Afinal, não seria por apoio governamental que conferências debateriam monopólio e manipulação midiática.

Em outubro, a Globo não estará apostando apenas na candidatura de José Serra. Buscará, mediante retrocessos de toda ordem, garantir a sobrevida de uma ordem informativa excludente, incompatível com as regras mais elementares do Estado Democrático de Direito.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Miguel Torga



Gosto deste autor. Lúcido. Consciente da condição humana. Um crítico da política e educação portuguesas.Sobre a descolonização escreveria:
"fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010







Mais um texto da Sônia. O amor é tema recorrente nos versos desta poeta.O site da Sônia é miscelâneo. Há artigos, crônicas, contos e outras "cositas mas". Em verdade, é uma revelação das várias facetas desta escritora.
Neste poema, temos a falência não do amor, mas de uma alma rota que, apesar da bancarrota, ainda deixa o coração a pulsar sem medo na busca de vencer a crise econômica-emocional-física .

BANCARROTA (SÔNIA MOURA, in www.idéiaseversos.com.br)



Gota de lágrima

De uma alma rota

Põe quem ama

Na rota

Da bancarrota



Amarga

A boca

Embrulha

O estômago

Enrijece

O corpo

Entorpece

A mente



Para tudo!



Somente

O coração,

Insistente,

Bate

Descompassadamente



E, sem medo

De isquemia ou de embolia,

Descontrolado

Em disritmias

O perdido coração

Segue em frente

Em busca de salvação

Em busca de milagre

Em busca de magia

Em busca da devolução

De um outro coração

Que saiu

Da sua rota

Deixando

Quem ama

A mendigar

O amor falido

Pobre ser perdido e

Na bancarrota

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um homem,uma mãe, espelhos e o masculino.


Em postagem anterior, destaquei textos de três mulheres que tratam do universo feminino. Aqui destaco uma declaração de amor escrita por um homem. O poeta é Flávio Silva Corrêa de Mello. Flávio é meu filho. Não por ser meu filho, destaco o poema " Espelhos". Destaco porque é bom. Por força do ofício, tornei-me uma leitora bastante razoável. Por modéstia, não digo ótima. Escritora, não o sou. Nem pretendo.
Por força de ser mãe, sou uma leitora do Flávio desde...sempre. E desde sempre o achei bom escritor. Por modéstia, não digo ótimo.
Para minha culpa materna/ eterna e carregada sobre os ombros, nunca fui mãe ternura-coruja. Fui e sou mãe dever-generala. Mas sou mãe-amante. Amo meus filhos, não só por serem meus filhos, mas por serem homens do bem. Seres humanos que compreendem e sabem conjugar amor e dever.
Neste texto, o poeta deixa clara fragiligade/força do amor a dois. Amor e sexo são pasta de vidro. A rotina é na cama e na louça. A plenitude-luz é tentar iluminar o outro como "espelhos que se roçam". Amor sem pieguices. O erótico sem vulgaridades. É uma declaração de amor sem banalidades.
Digo, cheia de corujices, muito bom!

Espelhos
(de Flávio Corrêa de Mello, in Rio Movediço -blogspot)
para Flávia


Dois espelhos colados.
Frente e verso. Reversos.
no meio dos dois a cola,
a linha espremida
e sufocada. Ali, nós,
como lençol
grudento de suor,
somos pasta de vidro.

Ali no meio somos amor,
somos no nome
- a essência é o nome.

Se a cola é úmida ou seca,
Se o amor é na cama ou na louça,
somos o diário, o cotidiano
de dois espelhos que roçam,
gripam e espaldam
quando o sol desponta,
quando a rusga aponta.

Esse é o encontro
daquilo que nem
sabemos o quanto
e o como,
o quando e o que se é:
o nome, a força, a constância,
então refletimos, sim
refletimos, apenas isso,
refletimos cada um
seu modo de iluminar
o rosto do outro.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Três mulheres: Sônia... Líria...Marina.


Conheço Sônia Moura. Amiga das longas conversas, do trabalho, das lágrimas poucas e do riso farto. Acompanho os escritos de Sônia a partir da publicação de seu primeiro livro de contos Doze Mulheres.
Conheço Líria Porto. Nunca nos vimos em carne e osso. Conhecemo-nos por meio desta máquina e, mais tarde, por telefone. O início de nossa amizade deu-se no uso da 2ª pessoa. Por e-mail, ela enviou-me este “de família”. Acompanho os escritos de Líria desde 2001.
Conheço a escritura de Marina Colassanti. Sempre numa perspectiva subjetiva-analítica do universo feminino e social. E assim são seus contos, suas crônicas e seus poemas.
Essas mulheres são como o vinho. A cada dia, hora, minuto e segundo ficam melhores.
Seus escritos são vinho tinto que, numa taça de cristal, não se vê o fundo. Para saboreá-los, tem de se beber vagarosamente. Sentir o sabor e a espessura doces/amargas do viver. O sabor e o saber de ser mulher.
Transcrevo aqui três escritos destas mulheres que falam do existir, amar e sonhar.

1º escrito: existir

de família
líria porto(por e-mail- um presente da Líria)

mãe era serei_a
cheiro de flor e manhã

tinha manto verdejante
e nove filhotes no canto

pai era mar
ia e vinha

: supria a casa de sal
e peixes

eu
grão de areia
abismado
existia

*

“de família” é instigante nos recursos estilísticos da pontuação desta máquina chamada computador. O uso de "underline" e do asterisco estão perfeitos. Quanto à forma e conteúdo está aí estrutura da família tradicional. Metáforas perfeitas. O homem é pai-mar. A mulher é mãe - grão de areia abismado.

2º escrito: Amar
ETERNIDADE
( Sônia Moura) in www.soniamoura.com.br

Eternamente

Quero ser sua

Eternamante


Eternamente

Quero ser sua

Namorante

Constante

Inconstante

Vibrante


E, eternamente,

Quero deixar o tempo

Fazer de meu amor

A sua casa

Para que você

Se quede radiante

Ante

Os desejos mais brilhantes

Aqueles que só entendem

Os que são

Eternamente

Amantes (Do livro: Poemas em Trânsito )

Aqui Sônia brinca e brilha no uso do sufixo ante para falar do amor. Ser capaz de Amar é força vital no universo feminino. Mulher é éter, é amante. Inebria e radia quando ama. Toda mulher anseia amar e ser amada. Neste poema, é prioridade amar.



3º escrito:sonhar
Marina Colassanti (in Rotas em colisão, ed Rocco)

Sexta-feira à noite

Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.


Neste sexta-feira, o tédio. O sexo sem fantasias. A rotina. Mas, lemos, principalmente, a capacidade feminina de sonhar.

3 poemas, 3 mulheres e a essência do feminino.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lerna


Num dezembro qualquer, um aborrecimento muito sério levou-a ao fundo do poço da existência. Este aborrecimento causou pane no emocional e, consequentemente, no físico.

A partir daí, procurou entender o mito da hidra do Lerna.

A hidra tem 9 cabeças. Representam elas:
o desejo sexual intenso;
a prioridade do conforto material;
o dinheiro como fonte de felicidade;
as paixões desenfreadas;
o ódio aliado ao desejo de vingança;
o poder;
os vícios;
o orgulho quando é arrogância;
a crueldade.

Para vencer e encontrar a paz e a felicidade internas, a hidra deve cortar as nove cabeças e entregá-las ao pântano de Lerna que tudo suga.

Dedicou-se ao trabalho de repensar a os conceitos e (pré)conceitos existenciais para sair do fundo do poço. Analisou as 9 cabeças. Ficou doente emocional e fisicamente. Encarou-se de frente e começou a achar o caminho do Lerna para entregar ao pântano os aspectos nocivos dessa representação simbólica.

Quando nos entregamos às nove cabeças hídricas, corremos o risco de tornarmo-nos menos humanos e perdermos o prumo de uma vida plena. Tornamo-nos teimosos-arrogantes e instalamos, inconscientemente, a perda.
Perdemos o Prazer da beleza do sexo, do amor, do conforto, do trabalho.
Entregou todos os negativos ao pântano.
Desinstalou a perda e (re)viveu!

"Uma bem desenhada ficção"


A bipolaridade do ser humano é o traço mais encantador do fato de sermos apenas humanos. Leitora do Barroco, aprendi a luta constante entre nossos opostos. Um não existiria sem o outro. Sem o ódio, não saberíamos o que é o amor. Não por acaso o poema Cântico Negro,de José Régio, é, dentre muitos outros, um dos meus prediletos.
O verso " nasci do amor que há entre deus e o diabo" traduz, para mim, a nossa fragilidade existencial.
Transcrevo, aqui, o que o jornalista Wanderley Soares publicou em sua coluna, no jornal O Sul, por ocasião do Natal de 2009. Um outro viés que nos coloca frente à nossa dualidade.


" Iguais
Aqui da minha torre, como um humilde marquês, todos os dias, tento descobrir os segredos dos escaninhos de um universo árido e amargo. Andejo dos becos da sarjeta aos salões da Justiça e, sem raridade, vejo, nos dois extremos, figurantes com princípios iguais. Em cada nova cena deste espetáculo imprevisível somente é possível ver que o leão nasce e morre leão, como acontece com a cobra, que nunca deixa de ser cobra.

A criatura humana, no entanto, traz, dentro de si, os instintos do cordeiro e da víbora. Nesta moldura, durante as festas religiosas - e, para os cristãos, o Natal é a comemoração maior - a idéia é a de que todos nós somos cordeiros irmãos. Trata-se, este momento, de um delicioso desejo e uma bem desenhada ficção. Valendo-me, então, deste hiato na aridez e na amargura do universo em que, a cada dia, vasculho, tento controlar, em mim, o cordeiro e a víbora e, sendo uma criatura comum, deixo aqui o meu poema e a mensagem de um Feliz Natal a todos os meus iguais".

Fumar II





Ela teve uma infância segura. Uma família que lhe deu um norte. A mãe dizia-lhe sempre:”- marido de mulher é emprego”. Cresceu ouvindo este lema. Assim dedicou-se ao estudo, única forma, segundo a mãe, de crescer na vida, ter um bom emprego e não depender, financeiramente, de ninguém.
Viveu plenamente as décadas de 60 e 70. Admirava Simone de Beauvoir, Jean Paul Sarte e outros tantos de sua época.
Em 1962, prestou concurso vestibular para a faculdade de Direito do Estado. Tinha 18 anos e era uma universitária. Ainda estudante, trabalhou como secretária, telefonista internacional. Queria ter o seu próprio dinheiro para ir ao teatro, ao cinema, comprar os livros de que gostava. O pai dava-lhe casa confortável e comida farta. A mãe, o incentivo para o estudo e o trabalho. Os dois davam amor e segurança. Mais não podia querer.
O estudo e o trabalho não a impediram de namorar, ir à festas e, principalmente, ir ao cinema. Não perdia um filme francês da nouvelle vague. Fã ardorosa de Fellini.Nos filmes, as atrizes fumavam. Achou chique, passou a fumar. Gostou. Estimulava a concentração no estudo e no trabalho. O cigarro passou a ser um elemento de pausa para colocar o pensamento em ordem. Nos filmes, também, bebia-se. De bebida, não gostou. Tornou-se fumante, mas não bebante. Nunca teve interesse por outras drogas, apesar do cinema tê-las difundido. Mais tarde, a televisão aliou-se ao cinema nesta propagação das drogas lícitas e ilícitas.
Como diz o senso comum, nada acontece por acaso. Um colega de faculdade quebrou a perna. Ele era professor de inglês em uma escola particular e como sabia que ela era formada pelo curso Oxford e trabalhava usando o idioma, pediu que o substituísse por 10 ou 15 dias. Bendita substituição. Descobriu naquele momento a sua vocação. Sentiu-se feliz ao ministrar aulas.
Formou-se em Direito e em Letras. Dedicou-se à Literatura.
Gostava do que fazia. Sentia-se uma Educadora que usava a Literatura como um meio de formar seres humanos íntegros e antenados com o seu tempo. Com a Literatura, ensinou-os a amar e compreender a importância do saber ler e escrever para alcançar a estesia. Diziam-na ser muito inteligente. Ela mesma nunca soube o que era ser inteligente. Mas gostava de ouvir e chegou a acreditar.
Namorou. Casou e. descasou. Amou e foi amada. Foi desamada também. Educou os filhos que teve. Dançou. Riu. Chorou.
Ainda namora, ama, desama, dança, ri, chora, trabalha e estuda. Sobretudo, tem filhos íntegros e paga seus impostos.
Esta mulher tem algumas dependências químicas. A primeira é a do bom humor; a segunda é a necessidade de amar e aceitar o próximo; a terceira é o cigarro, ainda, lícito.
Mas, hoje, por ser fumante, esta mulher é um ser excluído de todos os locais sustentados pelos impostos que ela mesma paga.
Ela é fumante, não é doente na alma. Amar e não ser amado, mau humor, ressentimento, rancor matam mais que o cigarro. A bebida também.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Coisas do idioma









A propósito de uma conversa no bar, minha amiga, a escritora Sônia Moura, enviou-me um poema de Alice Ruiz:


"Apaixonada


Apaixotudo


Apaixoquase".

 Essas conversas de bar, sempre entre um chope e outro, geram papos de conteúdos brilhantes-filosóficos. Conversando sobre amores idos e vindos, surgiu a poeta Alice Ruiz, entre outros.
A criatividade dos escritores é sempre surpreendente e rica. Esclareço que não sou uma escritora no sentido restrito, sou na verdade, uma escrivinhadora e uma leitora razoável.
Na condição de leitora razoável, leio Alice que neste textículo brincou/brilhou com as categorias gramaticais. Nada  pode ser, conforme o contexto , um substantivo,um advérbio, um pronome indefinido; tudo um pronome indefinido; quase um advérbio.
Dizemos que estamos apaixonada/os, então apaixonamo-nos pelo nada. Está paixão está no sonho, naquilo que fantasiamos do outro. De fato, não é nada.
Apaixonar-se é pelo tudo. Pela rotina, pela mau humor, pelos arrotos, pela meia furada, pelo suor, pelas rabugices e incluir nisso tudo o sonho e a fantasia.
Valeu para pensar em paixões e que tais.
Lembrei-me agora de um poema de Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa, que também usa  o idioma bincando com um sufixo. Diz o poema mais ou menos assim:
" O que há em mim é simplesmente cansaço/ nem disto nem daquilo nem sequer de tudo ou de nada/ (....)/um supremíssimo... íssimo...íssimo...íssimo cansaço".
Conclui que sou issimamente apaixoquase.
Valeu Sônia, valeu Alice e valeu Fernando.
 

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ólimpíadas vs Olimpíada

Existem algumas expressões que usamos no dia-a-dia e não nos damos conta da pertinência(ou não) delas.Eu mesma digo olimpíadas. Mas li numa coluna publicada em 03/10/09, no jornal O Sul ,esta a nota:

"Olimpíada
A escolha do Rio para sediar os jogos olímpicos de 2016 talvez sirva, pelo menos, para que alguns coleguinhas entendam que o Brasil vai sediar uma olimpíada e, nunca, as olimpíadas".

O autor, o jornalista gaúcho Wanderley Soares, fez observação bastante pertinente. Sem a menor dúvida, o escrito do Wanderley tem lógica, principalmente, pq é dirigida "aos coleguinhas".Tomara que sirva aos profissionais da comunicação.


Em verdade vos digo,o uso do cachimbo faz a boca torta, será que me lembrarei, daqui pra frente, de falar e escrever olimpíada? A nota tem fundamento. O uso do cachimbo também, pelo menos para nós, os simples mortais.


Valeu o toque jornalista!



quarta-feira, 30 de setembro de 2009







O mar, o tempo e leituras


Algumas vezes ao lermos textos diversos nos deparamos com algumas expressões que nos remetem à reminiscências. Não uma saudosista por natureza. Não sei se isso é positivo ou não. Penso que é melhor viver o agora, porém, no agora somos o resultado da poeira do nosso tempo. Foi esta expressão, lida num texto qualquer, que me fez reminesciar. A partir daí, lembrei-me de algumas expressões que marcaram o meu agora.
A primeira delas, foi quando num período conturbado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro/FFP-SG, não lembro datas, numa daquelas assembléias típicas das greves, um aluno, que era da Marinha, pediu a palavra e ao microfone disse em alto e bom som: " a nau está sem timoneiro". Sem considerarmos a situação quando isso foi dito, o que li me recordou esse aluno, já um senhor de cabeça e bigode brancos, e essa constatação. De fato, em nossa nau-nave-vida , não sabemos quem é o timoneiro. Por vezes, pensamos que somos nós mesmos, mas com Camões repito: " ledo engano d'alma".
A segunda, foi a crônica Nós, águas e pedras, de Wanderley Soares. Nesta crônica o autor refere-se ao universo feminino e masculino. Se os homens não entendem o universo feminino, as mulheres, apesar de mães de homens, também não endentem o universo masculino. Eu, particularmente, não entendo nem o feminino, nem o masculino. Mas recordei-me de uma expressão daquela crônica: " ... marinheiros, viajores de todos os mares..." E nesta viagem, vamos vivendo este bipolar desentendimento. Amando, desamando, chorando e rindo.


A terceira e última, lembrei-me de uns versos dos poetas e músicos Hermínio Belo de Carvalho e Paulinho da Viola que assim dizem:" não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar".



quarta-feira, 23 de setembro de 2009



A expressão mais usada no jornalismo é “eu acho”. Em achando, emitem idéias prosaicas, bizarras e tolas. No caso, do Zelaya ouvi pérolas de quem nunca trabalhou, de fato, em uma embaixada. Todos falam em nome do Brasil. O Brasil não deveria isso, não deveria aquilo. Até uma professora de direito internacional da USP foi chamada para opinar. Evidenciou-se, mais uma vez, a eterna questão teoria vs prática. Ministrar aulas sobre direito internacional é fato teórico, ter um presidente que foi eleito e depois deposto pelo Congresso e pelos militares batendo à porta de Embaixada Brasileira é fato real.


E palram... e palram... neste palavrório jornalístico, fica muito clara a negatividade. Nunca há a predominância de notícias e comentários dos aspectos positivos dos fatos. Só o negativo é evidenciado. Muito“não” pra pouco “sim”. Se prestarmos muita atenção aos noticiários, chegaremos à seguinte conclusão: viver neste planeta é uma droga.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Deus e o Diabo











Gosto de alguns autores portugueses. Miguel Torga, Augusto Abelaira, António Lobo Antunes e por aí vai. Em especial, gosto muito deste poema do José Régio. O que diz esse poema tem muito de mim e de todos que, constantemente, se questionam. Interpretado por Paulo Gracindo, é inesquecível.







Cântico Negro







"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?




Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.




Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...




Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.




Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!




domingo, 6 de setembro de 2009



Pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a tristeza do quase. O jogador que quase ganhou, continua jogando, o estudante que quase passou, continua estudando. O que quase aconteceu, em verdade, não aconteceu nem acontece. Viver pensando no quase é viver no outono. As oportunidades escapam por pensar demais, as chances se perdem pelo medo, as idéias não saem do papel. Mas, existem alguns que dizem/escrevem conteúdos-idéias que nos causam muito prazer e nos obrigam à busca daquilo que julgamos certo. Outros escutam, lêem, compreendem e passam para do pensamento para a realiz(ação). As idéias saem do papel, saem do quase e ganham vida.


Dentre os que pensam e escrevem, destaco, no século XIX, o cubano José Julián Martí y Pérez. Poeta, ensaísta, professor, filósofo e teórico político. Nasceu em 28 de janeiro de 1853, morreu em 19 de maio de 1895.


Durante sua curta vida, Martí saiu de seu ideário político e partiu para a ação. Foi um revolucionário, um lutador pela independência de Cuba da Espanha. Não viveu para ver Cuba liberta dos espanhóis. Em 19 de maio de 1895, Martí foi preso e mutilado pelo exército espanhol e seu corpo foi exibido à população em diferentes partes da Ilha.


Martí defendia a guerra sem ódio. Para ele, a luta só é válida se promover uma profunda transformação no comportamento humano nos aspectos culturai,s políticos, econômicos e sociais. Dizia ele:” quem se sentir ofendido com a ofensa feita a outros homens, quem não sentir na face a queimadura da bofetada dada noutra face, seja qual for a sua cor, não é digno de ser homem”.[1]


Saindo da teoria para a ação, Martí deixou o quase. Tornou-se um símbolo da luta pela independência buscando igualdade social. Em Cuba, inspirou estudantes, entre eles, Fidel Castro.


A revolução cubana, liderada por Fidel, trouxe mudanças profundas, propostas por Martí, no comportamento do povo cubano: autoestima elevada, respeito pela cultura, taxa de analfabetismo próxima a zero, baixo índice de mortalidade infantil, menor número de casos de AIDS per capita no mundo, entre outros. Não se pode negar, também, que o menor número de aparelhos celulares e acesso à Internet, no mundo, estão, também, em Cuba. Mas isso é outra história.








[1] MARTÍ,José. Páginas Escolhidas. Rio de Janeiro. Alba,1940

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Crônica- poesia e prosa no escrever moderno








A questão da crônica e dos gêneros literários sempre foi suscitadora de pesquisa por parte dos teóricos da literatura.


Ao pensarmos em literatura, uma acepção necessária e verossímil nos orienta: a literatura existe “antes da letra”, no duplo sentido:


a) de antes da consciência de sua existência;;


b) antes da criação da palavra escrita.


Nesse (pré)existir, a arte da palavra não concebe e não encerra o entendimento histórico-culturalmente caracterizado sobre a divisão em gêneros literários, nem a dicotomia que se procura detectar entre prosa e verso.


Cumpre ressaltar que a discussão sobre poesia e prosa, que se supõe tenha partido de Aristóteles, nunca encontrou exatamente sua teoria definitiva dada a natureza móvel e imponderável do fato literário.


Os modernos estudiosos dos gêneros estão cientes de que eles formam um sistema particular no interior de cada período e interferem na estrutura do discurso literário, razão por que devem ser estudados indutivamente, a partir de características da obra ou das obras, e não a partir da concepção tríade dos gêneros: lírico, épico e dramático.


Partimos da premissa de que não importa em que gênero se apresenta o texto, importa perceber a natureza humana e o trabalho “artesanal” da palavra, despertadora de emoções e reflexões, sendo a estesia o fim único de qualquer forma de arte. As teorias em geral, e a dos gêneros, em especial, não é senão um meio auxiliar que nos conduz ao conhecimento do literário. O texto é, sobretudo, criação de discurso, a presença do lírico, do épico, do dramático não é excludente, antes se entrelaça; e a linguagem é o elemento norteador quer da criação primeira, quer da leitura, que o re-cria.


Luiz Costa Lima nos orienta nesta re-criação participativa do leitor através das estéticas de recepção e efeito. Segundo ele, “o que é fundamental é a observação de que o discurso literário- e ficcional, em geral, - se distingue dos demais porque, não sendo guiado por uma rede conceitual orientadora de sua decodificação, nem por uma meta pragmática que subordina os enunciados a uma certa meta, exige do leitor sua entrada ativa, através da interpretação que suplementa o esquema trazido pela obra.” ( In A questão dos gêneros, p. 266)


Ligada ao tempo ( chrónos), a crônica terá como eixo um momento. Podemos entender esta forma do escrever como um “flash” dos acontecimentos sejam da história, da política, da economia, dos traços de uma dada cultura.


No início da era cristã, era entendida como uma relação de ocorrências organizada cronologicamente, por conseguinte, a participação direta do cronista não existia.


Na Idade Média, a crônica, assim entendida, atinge seu ponto alto. A partir do século XII, com Fernão Lopes, passou a apresentar uma perspectiva individual restrita ao aspecto histórico. Nessa forma foram denominadas “cronicões” e, mais tarde, história.


A partir do século XIX, passa a apresentar uma linguagem mais elaborada. A visão do cronista se faz mais presente, e um tom poético começa a permear o texto.


Atualmente, a crônica afasta-se da mera reprodução de fatos e se orienta para uma abordagem intimista e reflexiva. O “eu – lírico” penetra nesta escritura e, polimorficamente, faz uso da ironia, do discurso afetivo do monólogo, do diálogo, da confissão visando, na utilização dos recursos estilísticos da língua, à aproximação com a arte literária na busca de uma representação simbólica do imaginário coletivo em suas manifestações cotidianas.


Resultado de uma longa evolução do processo literário, a prosa poética é produto de um momento em que a linguagem literária, dominada por uma ideologia de formas clássicas, percorre o caminho da zona do silêncio em direção ao processo de desagregação da linguagem sob a forma de um suave rompimento com a estética clássica.


A cidade sempre foi configuração para a literatura. O poeta, desde a Grécia antiga, percebe esse ambiente e faz nascer a poesia lírica, lirismo aqui entendido como uma relação subjetiva com o real. No mundo moderno, é outra vez a cidade que vem dar novos contornos ao modo como o sujeito se relaciona com o mundo subjetivo: agora a onipotência do sujeito heróico, narrador do mundo e das peripécias épicas do homem é substituída pelo mergulho na subjetividade. É uma forma de antenação ideológica, uma vez que a literatura, enriquecendo-se com as demais artes, é oferecida ao homem para que numa ligação entre o real e o imaginário, autores e leitores sintam-se totalmente “antenados” na compreensão do mundo que os (nos) cerca.


Baudelaire[1] reconhece a nova cidade e o homem do povo. Em um artigo intitulado “O pintor da vida moderna” incorpora conceitos estéticos aos novos tempos das metrópoles, desinteressando-se do Belo absoluto para considerar o Belo transitório. .


Existe aí a possibilidade de transformar em poético tudo aquilo que a grande cidade pode oferecer de artificial, de grotesco ao artista abrindo, dessa forma, o caminho para a estética do feio e, ao mesmo tempo, belo, por ser humano.


A poética moderna, incorporada à crônica, nos abre o caminho para a percepção lírica, social e humana resultante de uma integração entre a emoção e o desejo de interpretar o mundo e é responsável pelo nascimento de uma significação que, ao revelar o mundo, revela o sujeito que o considera poeticamente, unindo o emocional ao reflexivo e, refletindo, não se acha só, procura alertar sobre as angústias e alegrias próprias da existência humana.






















[1] BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda, 4ª ed. RJ, Nova Fronteira, 1980


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Os astros e nós



Astrologia




O estudo dos astros não intenta estabelecer previsões. É preciso ter me mente que uma pessoa nascida no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo lugar não terá, necessariamente, um percurso de vida igual. Fatores de natureza econômica, social e genética interferem na existência humana.


A astrologia é, antes de tudo, um instrumento para o auto-conhecimento (sem hífen ou com? Ó dúvida! Mas não vou consultar. Ó preguiça!) mostrando aspectos da nossa personalidade. São observados os signos, as casas e os planetas. Este conjunto – signos, casas, planetas – é o dado para uma leitura global de nosso mapa astral. Assim, poderemos encontrar caminhos que nos levarão a uma investigação interna das nossas atitudes durante o percurso da nossa existência neste planeta.


O estudo da astrologia é uma das fontes dos diversos meios que o Homem busca para explicar a si mesmo e ao mundo que o cerca.


Toda ciência nasce da especulação metafísica. A existência de estrelas, meteoros, planetas, satélites, astros deu origem ao por quê? E ao para quê? Essas indagações norteiam o procedimento científico, daí surge a astronomia que, enquanto ciência, nega a astrologia. Por outro lado, a astrologia, hodiernamente, ampara-se nos estudos da astronomia. Combina mitologia e astronomia para fornecer ao ser humano mais uma fonte na procura da felicidade e de um ser pleno de paz interior.


Há um número expressivo de pessoas que pagam por um mapa astral como se ele fosse um oráculo, um objeto de previsões. Na realidade, o mapa é um instrumento para o conhecer-se. A partir desse conhecer-se, nós, seres humanos, poderemos nos compreender e aceitar-nos e repensar nossas emoções e atitudes.

Assim eu entendo mapa astral. Aqueles que quiserem interpretá-lo como um meio advinhatório ou divinatório que o façam. O que importa é a ajuda que ele trará.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Encucação



Fico surpresa com essa arruaça que estão promovendo contra o Sarney. Primeiro, ele é um político antigo, logo já comete os vícios da politicagem desde há muito; segundo, todo mundo sabe como se dá a prática política nos dois órgãos do legislativo – Senado e Câmara dos Deputados. É prática da República desde de sua instauração em 1889 (prática também da monarquia). Getúlio Vargas pedia empregos aos seus assessores para seus amigos-afilhados-políticos através de bilhetes. Deixou tudo documentado. Isso é herança social e política.


Entendo que essa “sarneysada” está sendo um jogo da oposição que nunca encontrou tanto espaço na mídia. Por que será hein? Só o Sarney? Qualquer cidadão sabe que a maioria dos nossos senadores está comprometida com tudo de que Sarney é acusado.


Há uma positividade nesta arruaça – as práticas viciosas vêm à tona. Todos as discutem. Fingir surpresa é hipocrisia. Todos os escândalos que surgiram durante os mandatos deste governo foram benéficos para nós, os eleitores. Haverá, a médio prazo, uma reformulação no discurso e práticas políticas.


Continuo encucada. Por que só o Sarney? E a pergunta continua: o Senado serve para quê?



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Fascismo ou nazismo?



Até 1970, não se ouvia falar tanto do tráfico de drogas. Eu, pelo menos, não ouvia. Li, recentemente, o livro Carmem de Ruy Castro. Em 1920,30, 40 e 50 a cocaína era vendida nas farmácias. O chique era cheirar cocaína e beber champanhe com éter. Esses eram vícios elitistas, só para ricos. Fumar e beber eram vícios de pobres.


Li, também recentemente, uma entrevista do Eduardo Coutinho ao jornal O Globo. Eduardo foi a Nova York receber prêmios pela sua produção cinematográfica. Ficou profundamente irritado pois é um fumante convicto. Nesta entrevista, ele declara que essa perseguição aos fumantes tem um traço do fascismo.


Surpresa, vejo que em São Paulo, em todo o Estado, foi aprovada a lei que proíbe o fumo em todos os locais fechados e abertos. Nos lugares fechados, eu até, com reservas, concordo. Mais surpresa, ainda, vejo que o Rio de Janeiro pretende seguir os mesmos passos.


Sou obrigada a concordar com Eduardo Coutinho. Isso é puro fascismo, nazismo ou seja que nome se queira dar para tanta proibição.


O cinema americano difundiu o hábito de beber, fumar cigarro, maconha e cheirar cocaína. E agora parte dos Estados Unidos essa campanha contra o cigarro e contra tudo que o cinema propagou. Tudo em nome da saude. Mais, ainda, em nome dos processos milionários que famílias, médicos e advogados impetram contra as empresas produtoras do cigarro.


Todos nós somos dependentes de algo. Há pessoas que são dependentes de pizzas, chocolates, coca-colas, doces, salgados. Comer de mais, comer de menos. Umas são dependentes da palavra não e dizem sempre não suporto isso, não suporto aquilo. Tornam-se escravos do mau humor. Outras são dependentes das conversas sobre mazelas, doenças, dívidas, dores de corno. Tornam-se vítimas da tristeza.

Não acho nenhuma dependência saudável. Conscientemente, sei que “depender” não é um ato voluntário. Nenhum ser humano torna-se um dependente por opção.


O que me assusta é a intransigência da maioria dos não fumantes, principalmente, dos (ex)fumantes. Estes sabem dia, hora, mês, ano quando pararam de fumar. Esquecem o dia, a hora, mês e ano do nascimento dos filhos, do casamento, do primeiro beijo, da primeira transa, do primeiro amor. Mas como não fumam ou pararam, sentem-se mais saudáveis.


Os cheiro do cigarro incomoda, há a alergia. O cheiro da miséria não gera tanto projeto-lei nem causa alergia. Os fumantes pagam impostos para não ver miséria e nem sentir o cheiro.


A fumaça do cigarro cria o fumante passivo. A fumaça produzida por carros queimando óleo não nos torna ferrari, scania vabis ou fusquinha.


A saude só é lembrada, agora, no cigarro. Nos impostos que pagamos, é esquecida por fumantes e não fumantes. O Sr. José Serra instituiu a CPMF - imposto ou taxa a ser destinada à saúde. Foi?


Há uma obsessão pela saúde. Ora não se deve comer ou beber isso, ora se deve comer ou beber aquilo que não se devia. Esta obsessão não deixa de ser uma forma de dependência.

Sou plenamente a favor dos lugares para fumantes e não-fumantes. Não bebo, convivo, porém, com bebantes. É minha escolha. A escolha tem de ser nossa.

Se o cigarro faz mal e mata, tenho certeza que mau humor, chatice, proibições e intolerância também fazem mal e matam mais.

Há programas e remédios que ajudam os fumantes a pararem. Todos caros. Nenhum projeto-lei que torne esses programas e remédios um dever do Estado. Gratuitos jamais serão. São pagos com os nossos impostos.


Pensando bem, nascer também faz mal. Afinal, somos finitos.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Senado serve para quê?



Há um restaurante na Tijuca chamado por nós de Poeirão. Está mais para boteco que para restaurante. O boteco tem um nome até bonito. Poeirão é só para nós, os íntimos da família.


Dono e garçom (o único) não sabem desse apelido carinhoso e que o define tão bem.


É um lugar de comida boa e barata, a poeira dá um tempero no jeito. Frequentado, quase sempre, pelas mesmas pessoas.


Estávamos lá eu e meus amigos Beto Fraga e Célia Conversa vai – conversa vem, Brasília, Sarney pra cá, Sarney pra lá. De repente, Beto pergunta: Para que serve o Senado?


Daí partimos para as análises conjectureais-filosóficas-baristas.


São três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Depois de algumas cervejas, concluímos que o legislativo tem dois órgãos:


1º- a Câmara dos Deputados;


2º - o Senado.


O Executivo envia projetos-lei para a Assembléia Legislativa para serem analisados e ou modificados pelos nossos representantes-deputados. Há também os projetos-lei elaborados pelos deputados na Câmara.


Depois de ampla discussão travada entre os nossos deputados federais, esses projetos-lei vão para o Senado.


No Senado, são novamente analisados e discutidos. Se não são aprovados, voltam para o 1º legislativo ( a câmara). Novamente outra avaliação e as possíveis modificações e/ou negociações são realizadas pela assembléia Após esse vai-e-vem e vem-e-vai, são re-enviados para o Senado -2º órgão, também, legislativo- que os rediscute. Depois de longa e ampla (re)discussão nesta segunda casa, também legislativa reitero. Nesse processo, devemos observar o tempo gasto nos dois órgãos do legislativo. Quando a aprovação finalmente acontece, há o envio para o Executivo que faz o que lhe compete – executa. (?) Ou não acontece nada.


Pareceu-nos aquela brincadeira do ioiô ou jogo de ping-pong. Enquanto jogam de lá para cá, de cá pra lá, nós, contribuintes, estamos pagando salários, moradia, transporte e outras tretas. Tetas também.


Li no blog Bar do Ferreirinha a seguinte sugestão: o Senado deveria ser transformado num puteiro. Pensamos o puteiro é uma casa de trabalho árduo. O prazer é de quem que paga. O dever é de quem recebe.


Nos cargos públicos ocupados pelos nossos eleitos, quem paga ( nós- os contribuintes) não temos prazer e quem recebe (eles - os eleitos) não têm dever. Concluímos que o puteiro é mais sério que o Senado, haja vista os bate-bocas a que temos assistidos na TV.


Chegamos até a ter pena do Sarney. Sabemos que está pra lá de na hora dele ser defenestrado de qualquer cargo pago pelo nosso dinheiro.


Após, mais cervejas, optamos pela a completa defenestração da maioria dos nossos legisladores-senadores.


A pergunta do Beto permanece: pra que serve o Senado? Como não sabemos para que serve, deixamos a pergunta no ar. Apesar do desconhecimento, concluímos que fechar o Senado não implica comprometimento algum ao processo democrático. Aquilo (o Senado), na nossa opinião, não precisa existir. Basta a Câmara dos Deputados, a não ser que alguém consiga nos convencer da finalidade séria do Senado. Representação dos Estados da Federação não nos convence.