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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um cronista



Ainda muito jovem gostava das crônicas de Antônio Maria no jornal Última Hora. Hoje, lembrei-me dele. Talvez porque hoje me sinta com "... cansaço da vida, cansaço de mim... Em verdade vos digo: cansaço da burrice do senso comum!


O pior encontro casual

Antônio Maria


O pior encontro casual da noite ainda é o do homem autobiográfico. Chega, senta e começa a crônica de si mesmo: "Acordo às sete da manhã e a primeira coisa que faço é tomar o meu bom chuveiro". Como são desprezíveis as pessoas que falam no "bom chuveiro!" E segue o parceiro: "Depois peço os jornais, sento à mesa e tomo meu café reforçado". Ah, a pena de morte, para as pessoas que tomam "café reforçado!" E a explanação continua: "Nos jornais, vocês me desculpem mas, a mim, só interessa o artigo de Macedo Soares e as histórias em quadrinhos". Nessa altura o autobiográfico procura colocar-se em dois planos, que lhe ficam muito bem: o que ele julga de seriedade política (Macedo) e o outro, de folgazante espiritual (histórias em quadrinhos).

E vai daí para outra modesta homenagem a si mesmo: "Aí, então, é que vou me vestir. Quanto à roupa, nunca liguei muito, mas, camisa e cueca, tenha paciência, eu mudo todo dia". O "tenha paciência" é porque está absolutamente certo de que estamos com a camisa e a cueca de ontem. "Acordo minha senhora, pergunto se ela quer alguma coisa e vou para o escritório". Gente que chama a mulher de "minha senhora" está sempre pensando que: não acreditamos que eles sejam casados no civil e no religioso; no fundo, desconfiamos de que sua mulher lhe seja infiel. E vai adiante o mal-feliz: "Só aí vou para o escritório, mas nunca antes de passar no jornal, para ver se há alguma coisa". Esse "passar no jornal" é um pouco difícil de explicar. Mas todo homem banal tem muita vergonha de não ser jornalista e alude sempre a um jornal, do qual tem duas ações ou pertence a um primo, ou amigo íntimo.

Vai por aí contando sua vidinha, que termina, melancolicamente, com esta frase: "À noite, eu sou da família!". Bonito! "Visto meu pijama, janto, deito no sofá e vou ver a televisão, com as crianças em cima de mim". Está aí o retrato perfeito do cretino nacional. E, o que é triste, além de numeroso, está em toda parte. Que horror me causam as pessoas do "bom chuveiro", do "café reforçado", os de "Macedo Soares e das histórias em quadrinhos" (os que gostam só de Macedo Soares ou só de histórias em quadrinhos são ótimos), que precisam dizer que mudam camisa e cueca todos os dias, as que citam "sua senhora" e os que "passam no jornal, antes de ir para o escritório". Nossa maior repulsa, ainda, por quem janta de pijama e deita no sofá, com as crianças em cima. Ah, essa gente me procura tanto!

19/10/1959


Texto extraído do livro "Com vocês, Antônio Maria", Editora Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1994, pág. 163.

Partido Alto Bolinha de Papel - Sambistas com Dilma

domingo, 24 de outubro de 2010

Meu nome é João - Despedida

Com este vídeo me despeço da ERA LULA. É antigo, mas sei que algumas metas foram alcançadas. O próximo governo, representado pela Assembleia e pelo Senado, já está eleito seja quem for o vencedor do 2º turno.






sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dançar

A tarde dançante

O título parece estranho. Evidentemente a tarde não dança. As pessoas dançam. Ocorre que “ tarde dançante” é um evento para chamada 3ª idade ( confesso não saber o que será a 4ª idade, a 5ª e por aí vai). Realiza-se no Tijuca Tênis Clube, um clube tradicional no bairro do mesmo nome. A pequena burguesia tijucana é conhecida exatamente por representar, aqui no RJ, a sigla TFP .
Confesso ter um certo preconceito com esses eventos. Dançar é bom em qualquer idade, a boa música também; Bom, vencido o pré-conceito contra a denominação 3ª idade, abri coração e mente e lá fui acompanhada de duas amigas.
Música ao vivo. Músicos da melhor qualidade. E coloca qualidade nisso. Não havia cantores profissionais. Para minha surpresa, os cantores eram os participantes da “tarde”. Senhores e senhoras que, despidos de preconceitos, na sua singeleza e alegria, cantavam, alguns bem, outros mal, músicas das décadas de 50 e 60. Os músicos acompanhavam bem a todos, os bons e os maus.
Não sendo dada a saudosismos, surpreendi-me ao relembrar os discos de 78 rotações ouvidos na vitrola da minha infância. Recordei alguns versos das letras daquelas músicas: “ bar refúgio barato dos fracassados do amor”; “caminhemos, talvez nos vejamos depois”; “ ave maria... rogai por nós os pecadores”; “ninguém é de ninguém” etc. Agora, penso como são tristes essas letras. O amor irrealizável. A traição uma constante. A dor de cotovelo mais constante ainda. Esses temas são cantados, de outra forma, até hoje. Prefiro o hoje.
A tristeza das letras musicais não empanou, nem empana a alegria dos participantes. O importante é o encontro. O traje adequado, os homens com suas calças vincadas. As mulheres com, o salto alto, os vestidos rodados. Todos, homens e mulheres, perfumados. Mas, o importante é a dança, o canto, a música.
Casais rodopiavam no melhor estilo Carlinhos de Jesus. Passos cruzados pra cá e pra lá. Todos graduados em academias de dança do salão. Pode-se tocar samba, mambo, tango, pagode, rock, sinfonias de Bethoven, marcha nupcial, parabéns pra você, baião seja lá qual for a variedade musical, os rodopios são os mesmos. E são rodopios garbosos.
Ao lado da dança e do encontro, hoje, no tempo do ficar, lá estava, ainda, a paquera. Cavalheiros passeiam pelo local, lançando olhares discretos na escolha de suas damas. Olhares enviesados são trocados. Um clima fantástico dos anos 50/60/70..
Quebrado o preconceito, adorei. Ri com a arte da paquera dos meus 18 anos, ri da minha falta de habilidade para a dança de salão ( preciso me graduar nisso. Meus pés, com tanta troca, quase dão um nó!). Um senhor me disse que sou capaz de aprender rápido. Umas dez aulas. Fiquei aliviada! Poderiam ser vinte aulas. Entretanto, o único par que consegui, incentivou-me: pararia de trocar os pés com apenas 10 aulas. Ufa, que alívio!
Ri com as “paqueras” das minhas amigas. Uma delas foi convidada para ir para o andar de cima. Ingenuamente, ela perguntou: O 2º andar?( estávamos no 1º)Não, respondeu ele, quero ir para o além.O moço estava deprimido com morte da esposa e queria morrer para com ela encontrar-se. Todavia,ele estava ali com suas calças de linho branco vincadas e sua camisa pólo azul, paquerando, conquistando. Palmas para ele. Tentava, pelo menos, aliviar a solidão.
A outra, que havia feito megahair, dançava garbosa e galhardamente. Volta de meia, abaixava-se para pegar um fio de cabelo que, eventualmente, descolava. Os cavalheiros não devem ter entendido nada. Afinal, o cabelo era dela e já estava pago.
A tarde que dançava acabou sendo divertida. Uma lição de alegria, bom humor e vontade de viver.

Por que Luiz Inácio incomoda tanto?



Recebi,gostei e deixo aqui registrado



Por que Luiz Inácio desagrada A Caetano Veloso,

por Marta Peres, professora da UFRJ




Grande artista, não faz falta a Caetano Veloso um diploma de nível superior. Seus recentes comentários injuriosos a respeito do presidente com a maior aprovação da História do Brasil são indiscutivelmente coerentes - com sua visão de mundo, com a visão da classe a que pertence, assim como dos meios de comunicação que as constroem incansavelmente, bloqueando qualquer ensaio de questionamento ao seu insistente pensamento único.

Ao se referir a Lula como ‘analfabeto’, o termo está sendo utilizado de forma equivocada, pois ‘analfabetismo’ significa ‘não saber ler nem escrever’. Imagino que ele esteja se remetendo, de maneira exagerada, ao fato de Lula não ter diploma de graduação, coisa que o compositor tampouco possui. Esse tipo de exigência não é nem mesmo cogitada ante outros artistas geniais como o próprio Caetano, ou Milton, Chico, Cora Coralina... Gilberto Gil, ex-ministro do governo Lula, graduou-se, mas não em música... ‘Ah, mas eles são artistas...’. E não seria a Política uma arte? Um pouco de Platão e Aristóteles não faz mal a ninguém...

Quanto à suposta ‘cafonice’ de nosso presidente, situado na revista americana Newsweek em 18° lugar entre as pessoas mais poderosas do mundo, Pierre Bourdieu (1930-2002) nos traz uma contribuição preciosa. De origem campesina, como Lula, o sociólogo francês criou conceitos que desmoronam o velho chavão do ‘gosto não se discute’. Para Bourdieu, não só se deve discutir, como estudar, compreender, aquilo que se trata de, mais que uma questão de ‘classe’, uma questão de ‘classe social’. Além do enorme abismo do ponto de vista propriamente econômico, os ‘gostos diferenciadores’, referentes ao ‘estilo de vida’, consistem na maior marca de violência simbólica e num fundamental instrumento de legitimação da dominação das classes dominadas pelas dominantes. Não somente é desigual a distribuição de renda numa sociedade dividida em classes, mas também o acesso à educação formal e informal - o hábito de freqüentar museus, espetáculos de teatro, música, dança - à sofisticação do vocabulário, às regras de etiqueta, à constituição da apresentação pessoal, dos ‘modos’ e atitudes corporais. Obviamente, alcançar maior poder aquisitivo não possibilita a aquisição desse ‘capital cultural’ adquirido ao longo de toda uma vida no convívio com ‘outras pessoas elegantes’, ou seja, com a ‘elite’. Uma expressão precisa para designá-las, utilizada corriqueiramente na Zona Sul do Rio, é ‘gente bonita’ - como sinônimo de portadores de determinadas marcas de classe evidentes pelo vestuário, linguajar, cabelos, corpos, modos, atitudes. Bourdieu demonstrou os aspectos, às vezes despercebidos, da ‘construção social’ do gosto, seja o gosto de Caetano, das elites, dos que gostariam de ser elite, pretendendo se distinguir da massa supostamente ‘inculta’. Em outras palavras, as classes às quais pertencemos determinam, em grande parte, nossos critérios aparentemente inatos do que vem a ser elegância, numa relação de constante imitação, pelos ‘cafonas’, dos considerados detentores dos critérios de julgamento estético.

Lula não segue a corrente dos imitadores: mantém-se fiel à cafonice que o identifica com suas origens populares. Ah, como isso incomoda...

Embora seja assistido desde tempos imemoriais, lembrando que Norbert Elias estudou como a nobreza francesa era imitada por suas congêneres do resto da Europa no Ancien Régime, aqui, no Brasil, o fenômeno da distinção alcança as fronteiras do ‘nojo’, das reações fisiológicas desagradáveis, diante de tudo que possa remeter a atributos das classes populares, tudo que venha do ‘povão’.

Não é à toa que o REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que tem como objetivo "criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível da graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas Universidades Federais" – seja alvo de críticas ferrenhas, apesar de vir ao encontro de demandas por mais vagas já presentes nos protestos estudantis da França e do Brasil há quarenta anos, os quais, aqui, jamais sequer haviam sido objeto de atenção pelos governos. A demanda por cidadania e não por privilégios restritos é assunto que dá nojo, dá ‘gastura’, como se fala no interior do Brasil. Mas isso são outros quinhentos...

Embora o acesso universal à educação deva ser uma meta, podemos questionar – como muitos eminentes acadêmicos questionam – que a universidade seja a única fonte de conhecimento legítimo, sob o risco de repetirmos, em outros moldes, o papel de detentora do saber exercido pela Igreja Católica Medieval. O que seria de nós sem a contribuição inestimável de tantos notáveis que por ela não passaram?

Pode-se argumentar, contudo, que o referido compositor não tem preconceito de classe, pois pretende votar em Marina Silva que, como Lula, tem origem nas classes desfavorecidas. (O curioso é que, sendo a candidata à sucessão de Lula uma economista, dessa vez, a mesma é cobrada por não possuir mestrado e acusada de ter lutado contra a ditadura militar: sempre inventarão motivos contrários a políticas públicas que ferem ideais de distinção de classe). Ao contrário do que parece, os atributos de Marina caem como uma luva para nossa conservadora classe média leitora do Globo e da Veja e que jamais se assumirá preconceituosa: portar a nobre e indignada bandeira da causa verde faz disparar sua pontuação no quesito ‘elegância’. Os que se preocupam ardentemente com a possibilidade de vida de seus netos e bisnetos são tocados em seu íntimo pelas questões ligadas à salvação das florestas.

Só que, mais uma vez, como a História sempre ajuda a enxergar, o buraco – na camada de ozônio – é mais embaixo: a destruição do planeta é a consequência inexorável de um sistema perverso que nele vem se instalando há alguns séculos. Ao longo de suas notáveis transformações, atingiu um ponto em que passou a se dar conta de seu próprio potencial de destruição e de identificar na preocupação com a natureza uma boa – e quem sabe, lucrativa - causa.

Do ponto de vista das chamadas ‘Gerações’ de Direitos Humanos, ao longo dos desdobramentos do capitalismo, a causa ecológica nasceu como a terceira filha. Enquanto a primeira, a segunda e a terceira gerações são identificadas com os ideais da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - a quarta, mais recente, relaciona-se a questões da Bioética e aos movimentos de segmentos minoritários ou discriminados da sociedade. A liberdade refere-se aos direitos civis e políticos, chamados de ‘direitos negativos’, pois limitam o poder exorbitante do Estado, que deve deixar o indivíduo viver e atuar politicamente. A igualdade consiste na luta pelos direitos sociais, culturais, econômicos, e demandam uma atuação ‘positiva’ do Estado no sentido de realizar ações que proporcionem condições de acesso de todos os indivíduos à educação, saúde, moradia, assistência social, dignidade no trabalho. Finalmente, a fraternidade esta ligada à ecologia, à preocupação com o destino da humanidade, irmanada por sua condição de habitante do planeta Terra.

Como se situaria o Brasil nessa História? Não vivemos mais no tempo de Marx, das jornadas de trabalho de 18 horas que não poupavam mulheres e crianças caindo mortas de fome ao redor das grandes máquinas sujas das fábricas. Hoje, longos tentáculos buscam mão de obra barata como a planta se dirige à luz do sol e os dejetos – da poluição e os seres humanos excluídos da participação em suas benesses - são escondidos do campo de visão dos que têm ‘bom gosto’. Depois de destruir suas próprias florestas, os países ricos se preocupam e ditam regras da etiqueta politicamente correta aos pobres, abraçando a ‘causa ecológica’ com a mesma eloqüência que ontem defenderam que a ‘mão invisível do mercado’ traria a felicidade geral. Hoje, uma mão visível segura imponente a bandeira do orgulho verde. Porém, o corpo do qual faz parte constitui-se de fome, miséria, doença, condições abaixo de qualquer noção de dignidade da pessoa humana. A bandeira parece ser de um médico, mas o sujeito que a segura é um ‘elegante’ monstro. Chega a ser apelativo falar em salvar o planeta tirando de contexto uma causa que ninguém ousará contestar. Mas que tal pesquisar casos concretos de vínculos incontestáveis entre partidos verdes de diferentes países com os setores mais conservadores das respectivas sociedades? Visualizando a imagem do monstro, de braços dados com uma chiquérrima Brigitte Bardot salvando animais, faz todo sentido. A Bela e a Fera...

De modo algum defendo qualquer teleologia e que tenhamos que passar por fases que os outros já passaram. Nem que os sete anos de Governo Lula tenham se proposto a enfrentar bravamente, contra tudo e contra todos, o capitalismo que domina quase toda a superfície do planeta. Ninguém falou em Revolução, aliás, não era esse o combinado. Apenas assisto a um esforço hercúleo de instaurar políticas que ferem o coração desses mecanismos de violência, real e simbólica, que o julgamento do que é ou não cafona só vem a perpetuar, no sentido de minimizar o enorme fosso que separa os que têm e os que não têm acesso a conquistas históricas impreteríveis do Ocidente, independentemente de obediência a qualquer cronologia, identificadas com os direitos humanos: combate à fome à miséria, acesso universal à educação, à energia elétrica, diminuição da desigualdade ímpar que nos assola. Fraternidade, também quero, mas junto com a Liberdade, e principalmente, o que mais nos falta, Igualdade! Não igualdade no sentido anatômico, igualdade de condições, junto com a quarta geração.

Não indignar-se com a miséria, agarrar-se ferrenhamente a seus privilégios, assim como espernear diante de sinais de mudança, faz parte do aprendizado de cegueira, inércia e arrogância por que passam nossas elites com seu gosto sofisticado. Mas ao contrário de um regime de concordância geral, o ideal de democracia é caracterizado justamente pela coexistência de opiniões diversas a respeito das políticas do governo. À insatisfação proveniente de certo campo ideológico correspondem, certamente, avanços jamais assistidos na História do Brasil. Com vínculos ideológicos resumidos na figura de ACM, nutridora de uma ordem social desigual desde 1500, existe uma realmente sincera elite baiana à qual, desagradar, é sinal de que Lula está no caminho certo!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma por Leonardo Boff

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso" pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais", onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avaliza fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), "a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)".
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para "fazedores de cabeça" do povo. Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
[Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra].

* Teólogo, filósofo e escritor

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Li, gostei e transcrevo texto de José Neves


O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro "Mental Obesity", que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna: "Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.  Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."  Segundo o autor: "a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono." 

As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação. 

O problema central está na família e na escola "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada."

Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: 
"O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante. "Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais." Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. "O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades." Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. 
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. "Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

sábado, 24 de julho de 2010

Por que escrever?


Clarice Lispector, no romance Água Viva, nos esclarece:" escrever é a palavra pescando o que não é palavra". Escrever é a possibilidade de quem tem na palavra uma forma de evasão e de (com)partilhar.

Escreve-se para si próprio  e, simultaneamente, para o outro. A palavra pesca o dito e quando acontece o entreleçamento entre o dito e o não-dito mergulha-se numa comunhão universal entre  escritor e leitor porque fazemos parte do mesmo presente temporal e do mesmo futuro intemporal.

Nós, escritores e leitores, somos seres humanos que partilhamos  as dores e as alegrias que o viver e o existir nos impõem.  Somos companheiros de uma realidade quotidiana. Mais tarde seremos o pó da História, o pretérito que se cumpriu para o bem e para o mal.

Essa comunhão universal se traduz numa solidariedade umbilical e cósmica porque " escrever a palavra que pesca o que não é palavra" deixa claro que onde está ou tenha estado o Homem é preciso que esteja ou tenha estado toda a humanidade. Afinal, ninguém é feliz sozinho, nem mesmo na eternidade.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

EPÍSTOLAS - ELIZA E MÉRCIA


O gênero epistolar, se assim podemos chamar, é forma de expressão escrita que - mesmo no tempo do e-mail- merece atenção. Escrever cartas é um exercício da linguagem e do pensamento. Algumas cartas são exemplos de literatura que nos conduzem à reflexão.

Em 1900, no Rio de Janeiro, foi lançada a Revista da Semana. Esta revista circulou por mais de 30 anos. Em 1914, foi inaugurada uma seção que tinha por título "Cartas de Mulher". Esta seção era assinada por Iracema, um pseudônimo que, segundo a revista, "ocultava uma das mais cultas e espirituosas senhoras da elite da sociedade carioca".

De 1914 a 1919, a publicação semanal foi constante. Tratava-se de artigos, sob a forma espistolar, sobre a assuntos femininos.

Destaco aqui um fragmento de uma carta datada de 30 de dezembro de 1916. Nesta carta Iracema fala-nos da concepção de amor para os dois sexos. Escreve ela:

"A concepção do amor é diversa nos dos sexos. O homem exige no amor compensações e satisfações. Para o homem, a mulher é  o objeto, é a cousa amorosa que ele tem o poder de destruir. Para a mulher o homem é a divindade por quem ela se imola. Perante a traição, o homem enfurece-se e a mulher sucumbe".

Neste fragmento, observa-se um problema moral de duplo valor. O homem traído tudo pode, ele tem o poder de destruir. Espanta-nos a atualidade do conteúdo. Na época - 1916- e até hoje, o homem pode se enfurecer. É só ver e ouvir os casos de Eliza e Mércia ocorridos em 2010, ambas morreram por serem consideradas "cousas amorosas" e de alguma forma incomodaram o ego do goleiro Bruno e do advogado Bispo.



quinta-feira, 27 de maio de 2010


Quem representa perigo para a paz mundial?
Quem representa perigo para a paz mundial? O Irã, que talvez pudesse vir a construir armamento nuclear, mas que não ocupa nenhum outro país? Ou os EUA, único país na história que usou a bomba atômica e que possui um arsenal que representa a metade de todo o armamento existente no mundo? - 20/05/2010 ( BLOG do Emir, in Carta Maior)



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Há dias


Há dias nublados


“ .... tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu...”

Acho que é do Chico Buarque.

Há dias...acordamos e perguntamos: Por quê? Para quê? Dias nublados. Estes são os dias da nostalgia. Vontade de chorar com ou sem os porquês. É o chorar para qualquer coisa. Chorar a alma para a dor esvair-se. Não sabemos qual dor. É ela, somente a dor. A dor vazia do vazio.
Não é a dor do amor de Camões, aquela “que nasce não sei onde e dói não sei porque”. A dor de amor é generosa.
Nestes dias doloridos, é deixar a angústia fluir, instalar a dor cruel do tédio. E depois voltar à renovação com a alma já esvaziada. Indolor.
Num destes dias li, na Obra Poética de Fernando Pessoa, este texto que é a tradução deste estado humano d’ alma.



Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e através estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que é meu.

Narrei-me à sombra e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido.
..

( PESSOA, Fernando. Obra Poética/ Cancioneiro. Aguilar. RJ, pág.127)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Saúde e lixo





O papel higiênico é biodegradável. Por que encontramos, nos banheiros, de escolas e hospitais o aviso: “não jogue papel no vaso”?
Fico cá a matutar, com tanta informação acerca das bactérias ( existe até, em um programa de TV, o dr bactéria) por que será o papel biodegradável não pode ir goela abaixo do esgoto? Existe tarefa mais bacteriana do que colocar as mãos, mesmo com luvas, neste lixo?
A rede de água e esgoto foi criada por engenheiros para esta, dentre outras, finalidade. Para o esgoto existe um tratamento da água. Pagamos taxas por este serviço.
Somos, atualmente, conscientizados e ensinados para a reciclagem do lixo. Aprendemos o que é descartável e o que não é. Para o lixo reciclável, separamos e lavamos as garrafas pet, os potes de margarina etc. Tudo lavado e limpo. O papel higiênico biodegradável é pego com a mão por algum ser humano, apesar de se dissolver na água. Para isto existe a descarga em todos os banheiros.
A explicação é que o papel entope o vaso. Como assim?!?!? E a rede de esgoto foi criada para quê? E a descarga? E o biodegradável?
Continuo a matutar: será por falta de uma educação voltada para a saúde sanitária? Ou será por uma consolidação cultural do sistema de fossas já extinto nos grandes centros urbanos?
O sistema de fossa não justifica o fato, uma vez que o papel dissolve. A falta da educação para a saúde sanitária é o mais provável. Limitar a higiene ao banho diário, à limpeza bucal, à limpeza da casa, à troca de travesseiros de seis em seis meses ( esta é a última de um dr bactéria qualquer) etc, é louvável, mas é pouco. Concluo para mim mesma: é falta da educação sanitária. Tornou-se um traço medieval de nossa cultura.
Que no seu lar e na sua casa, você opte por isso é um problema pessoal, mas ser ensinado e adotado por escolas e hospitais é problema nosso

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O saber

 Chamamos médicos, advogados, engenheiros, dentistas de doutores. Em verdade, são bachareis. Especializam-se em alguma área destas atividades.A partir do bacharelado, alguns tornam-se mestres e depois seguem para o doutorado. Há na vida acadêmica uma ordem: graduação - bacharel; pós-graduação latu-senso - especialista;pós-graduação strictu-senso - mestre e doutor.

Não é só na medicina, na advocacia, na odontologia e na engenharia que o título de doutor é pertinente. A rigor, o bacharel, o especialista, o mestre não são, a rigor, doutores. Mas, o uso do cachimbo faz a boca torta.O uso popular consagra. O consagrado pelo povo é inconteste. É sagrado.

Ter  os títulos de mestre e de doutor é uma necessidade do mercado. Não é uma busca espontânea, uma necessidade de conhecer a si mesmo para uma melhor compreensão existencial.

Conheço vários doutores. Aqueles que cursaram o doutorado. A maioria obteve o título em universidade pública. Academicamente, são doutores competentes na área do saber na qual se doutoraram.

Admiro-os. Respeito a tenacidade que tiveram para obter o título. Só quem passou por isso sabe o que é um orientador de dissertação do mestrado e/ou da tese do doutorado. Trata-se de um período de pesquisa, leituras e (re)leituras, escritos e (re)escritos, um ir e vir sem fim. Uma dor e uma angústia densas. Há muito choro e pouco riso. Terminado  este período, há a defesa da dissertação e/ou da tese. Uma banca é formada e começa o questionamento do trabalho apresentado. Um achismo sem fim. Finalmente, o título.

Fica um questionamento: para quê?

Com raras excessões, sem generalizar é claro, os egos inflam-se. O saber, titulado ou não,  é instrumento para a melhoria da qualidade da vida interior.Tornar-se um ser humano melhor, capaz de interagir com o semelhante é o princípio que norteia a ciência da educação em qualquer área do conhecimento .

O saber titulado, inflador do ego, agente da vaidade é inócuo, inválido, beira a idiotia. Principalmente, quando é patrocinado pelo ensino público, pago com nossos impostos.

É dever nosso, contribuintes, prestar mais atenção na formação destes mestres e doutores.

Qualquer ego inflado merece o desprezo. Merece ser defenestrado.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval

Não sendo uma carnavalesca, aproveito o período para um balanço existencial. Resolvi fazer esse balanço em Miguel Pereira. Morei algum tempo nesta cidade. Sabemos que nossa existência é um somatório do passado aliado ao presente. Só presente existe e ele é modificado a cada (re)visão. Por ser uma pessoa vivente do presente, não sei se vale à pena fazer viagens ao passado(?).
Talvez o excesso de alegria do carnaval me assuste um pouco. Os excessos me assustam.
Ser alegre é um constante estado da alma. Há almas que são sempre tristes. Parecem que tomam chá de melancolia. Essas almas melancólicas, no carnaval se travestem de uma alegria temporária. Mas, o tédio está lá. As almas tomam medicação para que possam se travestir seja cerveja , seja uísque, seja caipirinha. E a melancolia renasce na 4ª feira de cinzas.