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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Coisas do idioma









A propósito de uma conversa no bar, minha amiga, a escritora Sônia Moura, enviou-me um poema de Alice Ruiz:


"Apaixonada


Apaixotudo


Apaixoquase".

 Essas conversas de bar, sempre entre um chope e outro, geram papos de conteúdos brilhantes-filosóficos. Conversando sobre amores idos e vindos, surgiu a poeta Alice Ruiz, entre outros.
A criatividade dos escritores é sempre surpreendente e rica. Esclareço que não sou uma escritora no sentido restrito, sou na verdade, uma escrivinhadora e uma leitora razoável.
Na condição de leitora razoável, leio Alice que neste textículo brincou/brilhou com as categorias gramaticais. Nada  pode ser, conforme o contexto , um substantivo,um advérbio, um pronome indefinido; tudo um pronome indefinido; quase um advérbio.
Dizemos que estamos apaixonada/os, então apaixonamo-nos pelo nada. Está paixão está no sonho, naquilo que fantasiamos do outro. De fato, não é nada.
Apaixonar-se é pelo tudo. Pela rotina, pela mau humor, pelos arrotos, pela meia furada, pelo suor, pelas rabugices e incluir nisso tudo o sonho e a fantasia.
Valeu para pensar em paixões e que tais.
Lembrei-me agora de um poema de Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa, que também usa  o idioma bincando com um sufixo. Diz o poema mais ou menos assim:
" O que há em mim é simplesmente cansaço/ nem disto nem daquilo nem sequer de tudo ou de nada/ (....)/um supremíssimo... íssimo...íssimo...íssimo cansaço".
Conclui que sou issimamente apaixoquase.
Valeu Sônia, valeu Alice e valeu Fernando.