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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mudanças - para o Flávio.

Sempre achamos que sexta-feira é dia de balanço. De limpar a casa, dar uma remexida nos móveis, arrumar algumas gavetas, acender vários incensos e deixar que estes pequenos rituais se encarreguem de anunciar o final de semana.

Pegamos, findo o ritual, um livro para ler. Se a leitura é interessante nela nos fixamos. Porém, de quando em vez, nos pomos a pensar. E nos vêm à mente as amigas e amigos que compartilham comigo suas histórias. São histórias, também, minhas .


Contamos as separações doídas de companheiros/as de muitos anos ou de casamentos cobertos de pó, falamos de cansaço, de mães doentes, de pais agora carentes e frágeis, da constante preocupação com filhos. Falamos da dor, da perda e das saudades. Sentimos saudades do amor, da falta de alguma coisa. Há sempre um tumulto no peito. Uma urgência na alma. Algo de novo precisa acontecer.


Em geral, costumamos pensar na adolescência como O grande momento de crise, de metamorfose. E, sem dúvida, passar de jovem para adulto, é uma mudança e tanto.


Minha percepção, ao longo da vida, é que as marcas de quilometragem numa estrada estão espalhadas em muitos turning points, como dizem os ingleses naquela sua língua tão sintética. Existem pontos da nossa trajetória em que nós precisamos (re)pensar e mudar para continuar dançando com a vida.


Crescer, envelhecer, preparar-se para morrer são apenas alguns destes pontos. Vivemos uma espécie de hiato, um “entre parênteses”, separando aquilo que vivemos até agora e o futuro que precisamos parir de nós. Nossa incoerência é pensarmos que podemos controlar o futuro.


Tentemos nos lembrar de todas as histórias de herois e de heroínas que lemos. Elas começam sempre da mesma forma. Lá está o personagem principal vivendo sua vidinha, sequer está consciente da grande aventura que vai viver. Está, contudo, cheio de um vago mal-estar causado pela mesmice. Assim como nos livros, estamos nós, personagens da nossa própria história, cansados das nossas estradas rotineiras. E é exatamente aí que acontece o INESPERADO.


De repente, como se fosse um mero acaso, acontece um erro, um mal-entendido, um “algo” que vai mudar os rumos da nossa história . Parece-me que Eva quando aceitou a maçã da Serpente, ousou por todos nós o mergulho na grande aventura humana.


O INESPERADO altera o horizonte familiar. Agora, temos de lidar com forças desconhecidas, mas que nos conduzirá ao “despertar do eu”. O final feliz das histórias, na verdade, é um “enfim sós” com o “você mesmo”. Nós e nossa alma estamos, finalmente, afinados.


É evidente que o caminho da aventura não tem nada de fácil, ao contrário, é muito duro. O conselho dos sábios nos Upanishades hindus nos alerta: Acorda, levanta, pois o caminho é como a lâmina de uma navalha afiada, difícil de atravessar”.


É triste imaginar que cada um de nós pode estar sendo chamado para viver o seu destino, o seu INESPERADO agora mesmo. E, por vezes, não percebemos este chamado, ou se o percebemos, por medo ou acomodação, preferimos ignorá-lo


Precisamos estar atentos quando sentimos a urgência da mudança. Quando nos pegamos pensando: “algo de novo precisa acontecer”, “preciso mudar de vida”, “quero começar uma nova fase”. É necessário que fiquemos atentos aos sinais, aos avisos do acaso. Sei e todos nós sabemos que isso é fácil de falar e escrever. O difícil é aprender a abrir a alma para a percepção destes sinais. Sei, todavia, que só assim estaremos preparados a aceitar, sem medo, o convite do destino. Só assim poderemos abrir os braços para a aventura do viver.


Em verdade vos digo não sei como fazer, mas estou tentando.






















As nuvens correm apressadas pelo céu azul. São levadas pelo vento em desafio ao tempo.



E assim corremos nós atrás dos dias, numa dança ligeira, volteante, solta, em busca de emoções, de alegrias, de paz, de sorrisos, de soluções.



Nós humanos, somos conduzidos, como nuvens num balé, por nossos sonhos, nossas fantasias, nossa intuição e nossa coragem. Percorrendo o tempo cósmico e cármico e procuramos traçar o nosso caminho com fé, harmonia, sabedoria e paz.



Nem sempre isso é possível, assim nutrimo-nos, ou pelo menos tentamos nos nutrir, de coragem para os momentos tristes.



Difícil é perceber a sabedoria para os momentos alegres.











As nuvens correm apressadas pelo céu azul. São levadas pelo vento em desafio ao tempo.


E assim corremos nós atrás dos dias, numa dança ligeira, volteante, solta, em busca de emoções, de alegrias, de paz, de sorrisos, de soluções.


Nós humanos, somos conduzidos, como nuvens num balé, por nossos sonhos, nossas fantasias, nossa intuição e nossa coragem. Percorrendo o tempo cósmico e cármico e procuramos traçar o nosso caminho com fé, harmonia, sabedoria e paz.


Nem sempre isso é possível, assim nutrimo-nos, ou pelo menos tentamos nos nutrir, de coragem para os momentos tristes.


Difícil é perceber a sabedoria para os momentos alegres.



sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Mar, Mensagem e Fernando Pessoa




Dentre todas as formas de arte, a literatura é a que mais me fascina. A arquitetura e a pintura têm cores e formas, a dança tem movimento, a música tem graves, agudos. A arte da palavra exige, inicial e simplesmente, letras – e, a partir delas, formam-se os movimentos, as cores, os sons, enfim, os signos e os símbolos

Ao lermos, revemos nossa tentação de sermos poetas, escritores. A cada vez que lemos e relemos, recriamos o texto e tornamo-nos, também, parceiros do autor. Essa simbiose entre autor e leitor possibilita leituras diferenciadas. Não deixa de ser um trabalho de criação.

Reli Mensagem, para navegar, ler, entender e apreciar o texto pessoano, devemos pensar e repensar o espaço água na obra deste escritor e considerar as três letras básicas desta Mensagem poética/narrativa: MAR – AMAR – MA

Essa tríade compõe o universo histórico-umbilical da cultura portuguesa.

Os reinos da Península Ibérica formam, hoje, a Espanha; o pequeno condado é hoje a nação portuguesa, com traços culturais diferenciados. As diferenças nasceram da força do amor, talvez ufano, pela terra, pelos hábitos, pelo folclore. A cultura portuguesa é marcada pela determinação, pela teimosia, pela paixão e pelo gosto pela aventtura.
Como crescer economicamente, estando sempre em guerra com os outros Reinos, como o verdadeiro Reino de Portugal? Qual seria a saída? A fronteira terrestre, inóspita; à sua frente, o mar: fonte de liberdade e esperança. Para manter a terra seria preciso abandoná-la. Saída? O mar. É preciso conquistá-lo. Sobretudo, amá-lo. Nessa conquista há sofrimento, alegria, ódio, amor. E, dessa relação antitética, nasce o “amar o mar”.

Não é sem razão a frase dos antigos navegadores portugueses: “navegar é preciso, viver não é preciso”. O mar deu à língua portuguesa a palavra saudade – e à cultura portuguesa o traço melancólico de sua arte. A leitura, aquela com “olhos de ler”, e a compreensão plena de autores portugueses só é possível a partir do entendimento do signo “amarmaramar”.

Fernando Pessoa toma para si o espírito daquela frase – palavras de pórtico – diz: “viver não é preciso, criar é preciso”. E podemos, na sua obra, perceber vivência íntima da poesia e a luta por uma tradição verbal dela.

Em seu poema “Mensagem através do Mar Portuguez e do Monstrengo”, a referência ao mar se faz presente:
Arroio, esse cantar, jovem e puro,/ Busca o oceano por achar:/ E a falla dos pinhais, marulho obscuro,/ é o som presente d’esse mar futuro,/ É a voz da terra anciando pelo mar”. (In Mensagem, Primeira Parte/ Brasão – Sexto / D. Diniz)
Como um bruxo da palavra, Fernando Pessoa reitera a visão da importância do mar na tradição portuguesa.
No fragmento acima, a associação terra/mar; presente/ futuro mostra a semente e a reflexão históricas da presença da água na alma da nação portuguesa, como marca de seu fado – uma constatação mítica deste destino: o futuro, por se achar fora da terra, está, paradoxalmente, no retorno a ela. É preciso sair para voltar – e a nação, de espaço geográfico pequeno, tornar-se-á grandiosa.
Se pensarmos em Fernando Pessoa como um ocultista e que a sua verdade absoluta chega até nós por certos condutos, que são os símbolos, as figuras míticas, as fórmulas ritualísticas, as palavras sagradas: mar, nau, marulho, oceano – intuem a essencialidade desse elemento na previsão futura desta grande/pequena nação. E predizendo:

"Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra toda fosse uma.

Que o mar unisse, já não separasse.
Que o mar com fim será grego ou romano;
O mar sem fim é portuguez”. (In Mensagem, Segunda Parte/Mar Portuguez)
O poeta procede como um intérprete de símbolos que, além dos dotes de simpatia, intuição, inteligência e compreensão, arrogou-se o direito de prever o auxílio da “iluminação superior”, tomando a mão do superior e do incógnito para profetizar e vaticinar sobre a relação homem/mar/destino.
A presença da história marítima em Mensagem é elevada a um plano mítico, através do qual o poeta intenta recompor o passado histórico por meio do traçado de uma outra história espiritual e transcendente, para mostrar a capacidade da força humana em vencer os perigos que o mar apresenta para revalorizar o destemor do homem:
O Monstrengo que está no fim do mar
Voou trez vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo
De quem são as velas onde me roço?
De quem são as quilhas que vejo e ouço?
Disse o monstrengo, e rodou três vezes.”
O homem do leme tremeu e disse,
El-Rei D.João Segundo!
Sou um povo que quere o mar que é”.
Assim sendo, o ocultismo assume forma para dizer, indiretamente, da ligação irremediável do destino português ao mar. É, sobretudo, o modo de ser dessa tragicidade, a se cumprir para a grandeza ou pequenez da nação. Cada um de nós possui um lugar que podemos identificar como um domínio reservado e maravilhoso onde habitam os seres mais amados. Esse domínio reservado é o mar, fonte de perigo e aventura, desafio que sempre estará presente para testar o poder do Homem, tornando evidente a relação bipolar – razão X emoção – humana. Em Fernando Pessoa, esse é o “domínio reservado” para evidenciar o “cumprir-se Portugal”.
O espaço água é instável, macio; ao mesmo tempo, sólido; e gera a vontade de desafiar o imponderável. O mistério e o fascínio da água exercem no ser humano esse constante buscar desvendar e conquistar essa maciez e solidez, fonte de inspiração, angústia, apogeu – e derrota do Homem.
Nós, leitores-(re)criadores, percebemos que o fascínio pela água é cultivado desde a Antigüidade Clássica, com Ulisses, de Homero, até a época hodierna – e nos permitimos exemplificar, com Wanderley Soares, jornalista e cronista contemporâneo que, dentre os criadores da arte da palavra, simbolista - semiótico, refere-se à magia contagiante exercida pelo mar nos seres humanos, na crônica inédita Nós, Águas e Pedras traduz, metaforicamente, as emoções que vêm à tona diante do esplendor indefinível do mar:
“... das águas ruidosas, frementes dos oceanos, não são velados os perigos, as correntes, seus instintos invasores, não são ocultas as baías, as áreas de calmarias, suas ressacas, seus romances obscenos com os rochedos. Mas marinheiros viajores de todos os mares, sabem que nada é definitivo nos códigos dessas águas que parecem tão francas, tão reveladoras. Elas têm os mesmos cúmplices, os mesmos amantes das águas mansas, que são os ventos que se vão e retornam em horas não marcadas...”. (Nós, Águas e Pedras faz parte do 2º livro do autor. Ainda em elaboração para publicação).
Fernando Pessoa, navegando pelo Mar Portuguez, nos mostra que esse mistério “das águas frementes” fascina, amedronta e, eternamente, desafia o imaginário humano. O mar de Pessoa não é só o português, é o mar do planeta. Do nosso planeta-água.






A matéria


Futucando nesta máquina, encontrei esse belo (para o meu gosto) poema do Flávio Corrêa de Mello. Aqui deixo registrado. Flávio é um criador de boas metáforas. Poeta do sonho, da dor e da alegria. Um angustiado sonhador que sempre nos mostra o nosso sentimento mais profundo.

O poeta apaixonado
Dedica versos e livros
Para mulheres que comovem
E movem na impossibilidade
Da matéria, no reverso
Do espelho, no beijo
Da boca da amada
O poeta apaixonado
Tem cores para todas as cores
E superfícies para todos os desníveis
É um ser em profunda
Profusão dos amores mortos
Não ama, não sabe amar
Incompreendido
Confunde, co-funde imagens
Mistura a sintaxe
Vagueia na ortografia
É sofrimento
É lamento
Deixa espólio
Fugaz e rápido
de poesia mal capturada.

Coragem


Esta história começa como deveriam começar todas as histórias. Os antigos orientais já nos ensinaram...
Era uma vez um homem e uma mulher.
Conheceram-se.
Outrora, conheciam-se em praças, cinemas, bailes de formatura, gafieiras, teatro, pátios da escola, filas de ônibus...
Atualmente, pela internete. Estes se conheceram em salas de bate-papo. Um mundo de teclas, de monitores, de imaginação e de digitação.
O mundo virtual permite codinomes. Há pedregulhos, rabiscos, manuscritos, feiticeiros, bruxas, geminianas, lillas, lollas, archeiros, archoé, fulanos de tal, tua mulher, senhora das águas, thodah feminina, batom vermelho. Há também os codinomes oriundos de romances, de filmes, de personagens: Ana Terra, Maria Moura. Poderíamos elaborar uma relação tão ficcional quanto o mundo dos contos de fadas, das fábulas, das artes.
Os nomes reais, não tão prosaicos, nem tão imaginativos, tornam-se conhecidos após algum tempo e, como sói acontecer, realidade e virtualidade interpenetram-se.
O ser humano surge vivo. Suas dores, alegrias, mágoas, doenças, finanças em queda, finanças em alta, seus medos.
Há um denominador comum entre estes seres humanos: o estar solitário.
Os internautas desta história moravam em estados diferentes. Mantiveram uma relação internáutica repleta de afinidades. A cada dia, estas afinidades se confirmavam.
Ela, mais sonhadora, pensou: é a minha alma gêmea!
Ele, mais realista, pensou: gosto de conhecer pessoas e aqui é um bom espaço.
Ela estava em recuperação de uma cirurgia; ele também.
Ele escritor; ela professora.
Ele enviava seus escritos. Ela analisava e sugeria.
Ela, determinada; ele, acomodado.
Nesta determinação, ela escreveu trabalhos sobre a obra dele. Comparou-o a Beuadelaire, inscreveu seus escritos para serem comunicados em Congressos sobre Literatura. Todos esses Congressos eram realizados no Estado onde ele morava.
E lá foi ela transformar seu sonho em realidade. Saiu do seu Estado, pegou avião e foi lá conhece-lo ao vivo e a cores.
Durante três anos, foram três congressos. Cada congresso durava uma semana. Foram três semanas – uma por ano- de afinidades acentuadas.
Gostei dessa mulher que apostou no mundo virtual.
Gosto de mulheres sem medo, que arriscam, que acreditam no amor possível.
Se deu certo ou não, não importa. Importa a coragem, o expor-se.
Sem saber o final do amor-sonho-afinidade, tenho certeza que, na vida dela, permaneceu e, talvez, ainda permaneça a recordação deste momento da vida que, pela ousadia, ela criou. Ela fez a história.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Líria - até o nome é poético






Não sou uma escritora no sentido restrito da palavra. Sou uma escritora no sentido amplo. O tal strictu e latu sensu. Tou plenamente no latu. Apenas registro aqui coisitas que passam pela minha mente , meu coração e meus olhos. Sou, entretanto, uma boa leitora. Reconheço, com precisão, uma escritura boa. Aí incluo Líria Porto. Poeta da alma humana. Da essência feminina e existencial. Seu estilo é o do flash e nesse piscar de olhos, Líria diz tudo criando e recriando a palavra. Afinal, depois de muito pensar teve suas poesias publicadas. Deixo uma amostra:


e quanto mais


soo insólito

necessitado

dum canto



(só_lido

como pétalas

:pasto-as
de_vagar)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tarde dançante





O título parece estranho. Evidentemente a tarde não dança. As pessoas dançam. Ocorre que “ tarde dançante” é um evento para a chamada 3ª idade ( confesso não saber o que será a 4ª idade, a 5ª e por aí vai). Realiza-se no Tijuca Tênis Clube, um clube tradicional no bairro do mesmo nome no Rio de janeiro. A pequena burguesia tijucana é conhecida exatamente por representar, aqui no RJ, a sigla TFP .
Confesso ter um certo preconceito com esses eventos. Dançar é bom em qualquer idade, a boa música também. Bom, vencido o (pré)conceito contra a denominação 3ª idade, abri coração e mente e lá fui acompanhada de duas amigas.
Música ao vivo. Músicos da melhor qualidade. Bota qualidade nisso. Não havia cantores profissionais. Para minha surpresa, os cantores eram os participantes da “tarde”. Senhores e senhoras que, despidos de preconceitos, na sua singeleza e alegria, cantavam, alguns bem, outros mal, músicas das décadas de 50 e 60. Os músicos acompanhavam bem a todos, os bons e os maus.
Não sendo dada a saudosismos, surpreendi-me ao relembrar os discos de 78 rotações ouvidos na vitrola da minha infância. Recordei alguns versos das letras daquelas músicas: “ bar refúgio barato dos fracassados do amor”; “caminhemos, talvez nos vejamos depois”; “ ave maria... rogai por nós os pecadores”; “ninguém é de ninguém” etc. Agora, penso como são tristes essas letras. O amor era irrealizável. A traição uma constante. A dor de cotovelo mais constante ainda. Esses temas são cantados, de outra forma, até hoje. Prefiro o hoje.
A tristeza das letras musicais não empanou, nem empana a alegria dos participantes. O importante é o encontro. É o traje adequado, as calças masculinas vincadas, o salto alto, os vestidos rodados,o perfume, mas, sobretudo, o mais importante é a dança.
Casais rodopiavam no melhor estilo Carlinhos de Jesus. Passos cruzados pra cá e pra lá. Todos graduados em academias de dança do salão. Pode-se tocar samba, mambo, tango, pagode, rock, sinfonias de Bethoven, baião, marcha nupcial, parabéns pra você, seja lá qual for variedade musical, os rodopios são os mesmos.
Ao lado da dança e do encontro, hoje, no tempo do ficar, havia a paquera. Cavalheiros passeiam pelo local, lançando olhares discretos na escolha de suas damas. Olhares enviesados são trocados. Um clima fantástico dos anos cinquenta.
Quebrado o preconceito, adorei. Ri com a arte da paquera dos meus 18 anos, ri da minha falta de habilidade para a dança de salão ( preciso me graduar nisso. Meus pés, com tanta troca, quase dão um nó!). Um senhor me disse que sou capaz de aprender rápido. Umas dez aulas. Fiquei aliviada! No meu caso, com certeza, deveriam ser umas cinquentas aulas. Constato que com tanto vai para a direita, vai para a esquerda, sou uma descordenada motora.
Ri com as “paqueras” das minhas amigas. Uma delas conversava com um senhor bonito. Estavam encostados na grade da varanda. Falavam dos bairros Copacabana e Tijuca. De repente, ele perguntou :

-você não quer ir para o andar de cima?

Espantada, ela retucou:

- qual andar? O terceiro?

O além, respondeu ele.

O moço estava deprimido com morte da esposa , queria morrer para encontrar-se com ela. Não deixa de ser romântico. Todavia, estava ali com sua calça de linho branco, com vincos marcados, camisa azul, sapatos brancos para combinar com a calça. Mesmo dolorido com a perda da esposa, estava "paquerando". Palmas para ele. Tentava, pelo menos, aliviar a solidão e dizer-se estou vivo.
A outra, que havia feito megahair, dançava garbosa e galhardamente. Volta de meia, abaixava-se para pegar um fio de cabelo que, eventualmente, descolava. Os cavalheiros não devem ter entendido nada. Afinal, o cabelo era dela , já estava pago e ela tinha de recuperá-lo.
A tarde que dançava acabou sendo divertida e uma lição de descontração e bom humor.

O dia do amigo

Este texto não é meu. Desconheço a autoria. Gostei e aqui deixo registrado. De qualquer forma, penso que todo dia é dia de amigo.



"
Quando eu era pequena, acreditava no conceito de apenas UMA melhor amiga para toda a vida.
Depois, como mulher, descobri que se você permitir que seu coração se abra,
você encontrará o melhor em muitas amigas.
É preciso uma amiga quando você está com problemas com seu homem. É preciso outra amiga quando você está com problemas com sua mãe ou irmã. Uma quando está se sentindo muito gorda, ou muito magra, muito alta ou muito baixa...
Uma outra quando você quer fazer compras, compartilhar, curar, viajar, rir, ferir, chorar, meditar, brincar, ir ao cinema, ao teatro, ir ao salão de beleza, se divertir na praia ou apenas ser você mesma.
Uma amiga dirá 'vamos rezar', uma outra 'vamos chorar',
outra 'vamos lutar', outra 'vamos fazer compras', outra 'vamos fugir',
outra 'vamos saltar de pára-quedas'...
Outra 'vamos numa vidente', ou 'vamos tomar um porre',
outra 'vamos paquerar', outra 'vamos para um SPA', ou... 'vamos abandonar tudo e dar a volta ao mundo numa grande aventura!!!'
Uma amiga entenderá às suas necessidades espirituais, sempre saberá dar o melhor conselho e você sentirá que é uma resposta divina...
Uma outra amiga entenderá a sua loucura por filmes, livros e DVD´s
uma outra a sua paixão por sapatos ou bolsas...
Uma outra por perfumes, jóias, velas ou incensos, uma outra por cultura, aventuras e viagens...
Uma outra amiga entenderá seu desejo por chocolates, outra por quadros, decoração, outra por música e dança...
Outra enviará uma resposta que você precisa por email,outra estará com você fisicamente em seus períodos confusos, outra estará a milhares de KM, mas dará um jeitinho de se fazer presente... Outra será seu anjo protetor e uma outra será como uma mãe.
Mas onde quer que ela se encaixe em sua vida, quer você a veja pessoalmente ou não, independente da ocasião, quer seja o seu casamento, ou apenas uma segunda-feira chuvosa,
todas são suas melhores amigas e estarão presentes como puderem.
Elas podem ser concentradas em uma única mulher ou em várias.... Uma do ginásio, uma do colegial, várias dos anos de faculdade...
Umas da academia, outras do clube, outras daquela viagem...
Algumas de antigos empregos, algumas da igreja ou da Yoga...
Outras da internet, outras amigas de suas amigas, ex cunhadas, ex rivais, ex chefes ou ex colegas...
Pode ser até mesmo aquela escritora famosa que te ajuda através de um bom livro ou de um programa na TV...Em alguns dias uma "estranha" que acabou de conhecer e em outros até mesmo sua filha ou neta. Pode ser ainda sua irmã, cunhada, prima, tia, madrinha,
mãe, vó, bisa, vizinha...
Enfim, as possibilidades são infinitas!
Assim, podem ter sido 30 minutos ou 30 anos o tempo que essas mulheres passaram e fizeram a diferença em nossas vidas, elas sempre deixam um pouquinho delas dentro da gente!
Muito obrigada por fazer parte do círculo de mulheres maravilhosas que eu tenho o prazer de conviver e que fizeram e ainda fazem a diferença em minha vida.
Amo todas vocês, independente do nível de amizade e com a intensidade que até mesmo a distância ou o tempo não diminuem! "

E se precisar de mim, saiba que estarei aqui, a apenas um email de distância...
Bjs!!!


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A África e o currículo escolar



O papel da Educação, enquanto ciência, é, também, formar e alicerçar o cidadão consciente de seu desempenho na coletividade, conhecedor da sua origem e da sua história.
A questão africana permanece excluída do currículo básico da escola brasileira. A integração dos assuntos africanos e afro-brasileiros ao currículo escolar é insuficiente , apesar dos esforços institucionais. Baseado no eurocentrismo, o processo pedagógico não reconhece a criança afro-brasileira porque não reflete a sua face e a de sua família, gerando o desconhecimento da experiência histórica, filosófica e cultural da maioria brasileira de origem africana que constitui um dos alicerces da civilização e da identidade nacional.
Nesse sentido, o fato de maior destaque é a promulgação da lei nº 10.639 em 9 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira no ensino básico, níveis fundamental e médio.
Os professores de história e literatura, destacados como principais agentes para a sua aplicação, não tiveram, salvo raras exceções, contato com tais temas. Existem, ainda, lacunas nos currículos da maioria das universidades brasileiras no que diz respeito ao estudo da história da África e da cultura afro- brasileira, portanto cursos dessa natureza fazem-se urgentes. Assim sendo, como ficam os estudantes do ensino fundamental e médio?
O ensino religioso que algumas escolas adotam não abordam as religiões africanas. Os cursos de Teologia preparam para a consolidação do cristianismo. No Brasil, a influência africana é preponderante, mas socialmente desqualificada.
Nossa escola é elitista, Busca modelos americanos do norte e europeus.
Pensar sobre o assunto é dever de todos.

domingo, 19 de julho de 2009

Amor e Sexo




Usa-se indiscriminadamente a palavra amor. Nos mais diversos idiomas, todos amam. Os filmes americanos são prenhes de I love you. Para qualquer situação I love you. Comete-se a maior injúria, calunia-se, mata-se mas tudo fica resolvido com I love you. E ficam de eu te amo pra cá, eu te amo pra lá. E a expressão passa a ser a chave de todos os perdões. Desta forma, banaliza-se a beleza do dizer – eu te amo.
No Brasil, não se diz tanto eu te amo, mas, como em várias sociedades deste planeta, confunde-se amor e sexo com muita facilidade. Ninguém faz sexo, todos fazem amor. Sabemos que o sexo é um instinto vital. É a busca humana do prazer. Conhecem alguém, sentem atração, a libido desperta, o tesão chega, sentem vontade de dar ou receber e fazem... amor. Fazem o quê?! Amor? Não, simplesmente, praticam o sexo. A atração sexual assume o papel do amor e, na razão e na emoção, estão amando. E, em nome dessa atração, sofrem, riem, choram, casam, descasam, acreditam ser para sempre. Quando tudo desmorona, a libido acaba, a atração, como bala chupada até o final, vai embora deixando na boca apenas um gostinho de saudade, desesperam-se e deixam de acreditar no amor. Essa terceira pessoa é, certamente a primeira – somo nós. Nós confundimos fazer sexo com amor. Essa confusão gera a descrença neste sentimento, nesta emoção, neste prazer tão prestigiados e desejados pelo ser humano de todas as épocas.
O mito do amor eterno nasceu com o conceito do romantismo. A sociedade burguesa, na busca do ideal de perfeição da união entre homens e mulheres, enganou-se quanto ao conceito amor. Esse ideal procurado feriu e fere o âmago do ser humano há, pelo menos, dois séculos.
Hoje, observam-se homens e mulheres, a falarem uns dos outros, através de piadas, de gritos sussurrados de socorro. A procura da solidão é mais acentuada e o medo do dar-se, do abrir-se, do perder-se de si mesmo para se completar no outro, tornou-se discurso obrigatório do ser humano moderno. Prefiro ficar só a ter de sofrer, a ter decepções, a ter de abrir mão de mim mesmo. Vale ressaltar que cristianismo inculcou em nós a culpa de amar. O único amor possível é o amor a Deus, à mãe, ao pai, aos irmãos. O sexo para procriação. Este foi o mal do mito do amor romântico – queremos que ele seja eterno, perfeito. O amor não é eterno, assim como nada na vida o é, nem a própria vida. E assim prosseguimos procurando no outro a nossa complementação e confundindo carência, dependência, falta de amor próprio, desejo sexual, com amor. O medo está permeando essa compreensão de sentimentos, e o maior medo é o da solidão.

Ah, concepção complexa! O amar não é abrir mão de si mesmo. É manter-se fiel a si mesmo e respeitar o outro. É um desprender-se , é um amar-se primeiro e assim poder amar o outro. É bonito de se dizer, de se ler, de se escrever, Difícil pôr em prática.
O amor associado à plenitude da realização no outro abrange o compreender e compartilhar emoções –alegrias e dores. Abrange, também e fundamentalmente, o sexo, este instinto vital que nos eleva quando associado à conscientização plena do amar.
A grande dificuldade está em associar amor e sexo. Não nos entregamos ao amor por medo de perder e sofrer. Praticamos o sexo por necessidade biológica e de auto afirmação. E perdidos ficamos nesta teia da vida, neste emaranhado de emoções.

Sobre vinhos e sobre beijos



Entre beijos e vinhos

A leitura é, antes de tudo, um prazer. Existem várias formas de ler: o ler-crítico, o ler-lazer, o ler-amor. Essas diretrizes determinam o tipo de leitores que somos – felizes ou severos. Nossos olhos não deverão jamais entrar no universo do crítico literário, que é um leitor severo. O crítico literário não lê com o coração, não é afeito à leitura feliz. Cria um vocabulário estatal e disseca o texto como magistrado, a emitir um juízo de valor. Nós, leitores afeitos à leitura feliz, nos desenvolvemos para ler o que nos agrada e aprendemos a estimular o que chamamos de “olhos de ler”. Olhos do coração, do vocabulário, sem trajes de magistrados, os olhos do prazer e de todas as possíveis interpretações e re-invenções.
Graças às forças do Universo, com uma linguagem clara, plena de lirismo nos chegam Sônia Moura e suas poesias publicadas no livro Entre beijos e vinho. Uma escritora perfeita para nós leitores-felizes. Se em seu livro anterior, Doze Mulheres Contam, celebrou o cotidiano do universo feminino narrando e metaforizando os fatos e o tempo através dos meses do ano, celebra agora, poetando, o amor feminino sensual-sexual e afirma “ quero o riso, quero a alegria/ quero o mundo para nós, para o amor e para o tesão”.
O erotismo de Sônia oscila entre o sagrado e o profano. Não se trata de opor, mas de transformar o profano em sagrado. Dessa forma, sacraliza a relação amorosa-sexual entre o homem e a mulher. Para ela, o amor é “ festa insana...com sabores divinos...gula de almas amantes” e “ Nesta orgia santa/ fizemos da cama/ nosso santo altar”.
Num mundo neo-liberal, mecanizado, individualista, esta autora ousa sonhar e afirmar que “ a fantasia não morreu”. Metaligüísticamente, define o seu poetar: “ O meu poema guarda a solidão de uma partida/ Os meus olhos não vêem o que é real/ Recrio nossa realidade no poema e no tema/ Jogo com o consciente e o inconsciente/ Faço um chiste com a minha dor”.
Estes poemas nos dão alento para sonhar e não ter medo do amar. Nos inspiram o respeito pelo nosso corpo, anseios e desejos. Assim, Sônia ordena: “venha para os meus braços/ pouse em nosso ninho/ ouça nossa música, degustando nosso vinho/ venha, amor meu/ venha pleno para os meus carinhos...”
Ao lermos, revemos nossa tentação de sermos poetas, escritores. Tornamo-nos leitores-criadores. Estabelecemos uma imagem poética, secreta, feliz e discreta com o belo texto e encontramos a energia para cumprir a ordem dada pela a autora e nos embalar entre o beijo e o vinho, a bebida sagrada

Não estou 100% de acordo com o Governo Lula, mas ele continua sendo o único que mereceu meu voto. Considero o debate político saudável, mas protesto contra a baixaria lançada contra Lula e a insidiosa campanha promovida pela mídia "de sempre" contra aquela que foi a única candidatura popular à presidência do Brasil. Considero o debate político saudável, mas protesto contra o desrespeito contra Lula e a insidiosa campanha promovida pela mídia "de sempre" contra aquela que ainda foi a única candidatura popular à presidência do Brasil.
No próximo mandato, de qualquer presidente eleito, tenha ele o meu voto ou não, quero uma política econômica mais voltada para o desenvolvimento e menos comprometida com o mercado financeiro; quero o aprofundamento das políticas de base; quero uma reforma política que breque a bandalheira no Congresso Nacional e no Senado.
No governo Lula,vieram à tona as negociatas das nossas instituições. Negociatas realizadas pelos nossos instituidos Não é um fato bom porque nos revela a nossa fragilidade como eleitores. Porém, a democracia se fez plena. O mensalão existe/existia há mais de 40 anos. É uma prática política mundial. Empregar os familiares é mais velho que andar pra frente. O Executivo fez o que tinha de fazer: encaminhou ao Judiciario. A Justiça Federal atuou e atua. Entretanto, a " mídia de sempre" insiste em culpar só a figura do presidente. Como se ainda vivessemos o mito do sebastianismo, esperando o grande rei que viesse realizar milagres que deveriam ser milagrados por nós, eleitores e cidadãos. Quero mais espaço para empreender essas lutas e muitas outras que são de todos e todas que querem participar da construção de um Brasil melhor, mais justo e mais solidário. Assim, compreendo meu voto consciente.

Festas e Calendários

Nunca me senti à vontade com as festas de datas marcadas: Natal, Ano Novo, Páscoa. Há em mim um tédio-cansaço. Reconheço, entretanto, que a energia dessas datas é bastante positiva. A palavra feliz está sempre presente. E o envolvimento acontece. Compramos presentes, bacalhau, peru, uvas brancas, vinhos, chocolates. O tédio está n'alma. Mas, a aparente alegria disfarça-o e vamos procurando a esperança que, bem lá no fundo, persiste. E assim vão passando natais, anos e páscoas.

Um jornalista de Porto Alegre, Wanderley Soares, enviou-me, em 2003, uma mensagem de Natal. Se bem me lembro Lula acabara de ser eleito. Poderia ter sido qualquer outro. Não há conotação política, pelo menos assim entendi. Há o entendimento do humano e do social. Achei-a ótima.

Aqui a transcrevo.

Se eu fosse
Se eu fosse o Lula,
numa MP permanente,
por via conseqüente,
instituiria, por mês,
um Natal candente,
mas sem presente.

Um Natal incondicional
de troca de abraços,
beijos, segredos,
e de confissões mútuas,
de perdão geral, total.

Se eu fosse o Lula
decretaria: janeiro, 25,
projetar sonhos loucos,
sem guerra, sem fome;
fevereiro, 25,
cantar para deus Sol,
mesmo sem saber cantar;
março, 25, cumprimentar vizinhos
carrancudos, mal-amados;
abril, 25, tomar banho de Lua
ouvindo música brasileira;
maio, 25, vestir uma mãe favelada
e rezar uma Ave Maria;
junho, 25, fazer uma fogueira
e dançar uma dança afro;
julho, 25, agasalhar
aos desarmados contra o frio;
agosto, 25, ler um poema
para quem não sabe ler;
setembro, 25, oferecer uma rosa
para uma prostituta pobre;
outubro, 25, abraçar uma árvore,
tomar banho nu, no mar, nos rios;
novembro, 25, tirar uma velhinha,
um velhinho e dançar de rosto colado;
E assim seriam onze Natais
com Cristo presente...
Dezembro, 25, deixar rolar
a alegria dos shoppings,
dos supermercados e dos bancos...
Ah!, se eu fosse o Lula