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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Miscelâneas e Tonterias da Jandira: A gratuidade da maldade humana me espanta e estar...

Miscelâneas e Tonterias da Jandira:
A gratuidade da maldade humana me espanta e estar...
: "A gratuidade da maldade humana me espanta e estarrece. Ser imperfeito é aceitável, seu mau por prazer é doença. O gato Fred Mercury foi agr..."

A gratuidade da maldade humana me espanta e estarrece. Ser imperfeito é aceitável, seu mau por prazer é doença. O gato Fred Mercury foi agredido, na rua, por um ser vivente. A criatura furou o olho do gato por prazer. Há orgasmos físicos e emocionais. A maldade e a bondade incluem-se no orgasmo emocional. Uns "orgasmizam-se" na tortura, outros "orgasmizam-se" na ternura. Na segunda hipótese, estão os donos da casa onde o Fred é tratado. Essa capacidade de afeto com qualquer ser vivente causa emoção e é desta capacidade que renovamos a nossa esperança e força para a descoberta do prazer de viver cada dia.
Fred, apesar de caolho, mantém a altivez e sua denguice felina.
Pergunto-me, porém, qual será o prazer em furar o olho de um gato? Sei que a resposta não existe.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Discofox

Miscelâneas e Tonterias da Jandira: De novembro a dezembro, três perguntas envolveram ...

Miscelâneas e Tonterias da Jandira: De novembro a dezembro, três perguntas envolveram ...: "De novembro a dezembro, três perguntas envolveram minha mente: 1 - O trabalho é constrói a dignidade humana? 2 - A internete e suas redes so..."
De novembro a dezembro, três perguntas envolveram minha mente:
1 - O trabalho é constrói a dignidade humana?
2 - A internete e suas redes sociais - twitter, orkut, facebook - empobrecem a comunicação na língua escrita?
3 - O que há de errado com a felicidade?

Continuo sem as respostas.

domingo, 14 de novembro de 2010


Há em mim uma dor tão grande! A solidão não é a falta da companhia de pessoas. A solidão é interna, é construída na falta da troca de ideias. É você calar o que pensa e sente para não perder uma fantasia de amizade. É você ouvir pensamentos tão contrários aos seus e calar-se para não ferir e ser ferida.
Há em mim uma dor tão grande!

Rita Ribeiro - Tecnomacumba no Bem Brasil - TV Cultura

sábado, 13 de novembro de 2010

Miscelâneas e Tonterias da Jandira: Viver é sério. Durante o curto período de nossa pa...

Miscelâneas e Tonterias da Jandira: Viver é sério. Durante o curto período de nossa pa...: "Viver é sério. Durante o curto período de nossa passagem por este planeta, enfrentamos momentos angustiantes e (des)angustiantes. Daí partem..."
Viver é sério. Durante o curto período de nossa passagem por este planeta, enfrentamos momentos angustiantes e (des)angustiantes. Daí partem conceitos,(pré)conceitos, preceitos,o certo, o errado, o bem, o mal, o bom, o mau e o diabo a quatro...
Pela minha parca experiência vivida, percebi que as pessoas que não riem de si mesmas, tornam-se chatas. Todos conhecemos algumas criaturas humanas que adoram brincar com outras criaturas humanas, mas, porém, contudo, todavia e entretanto quando brinca-se com elas, dizem: "não gosto disso" e adotam uma postura defensiva na vida. O que é isto senão a incapacidade de rir de si mesmo?
O bom humor é, para mim,a maior prova de sabedoria para esta nossa passagem por este planeta. A vida é séria por ela mesma. A inteligência humana conhece este fato. Torná-la mais séria do que ela é penso ser atitude desinteligente.Costumamos rotular as pessoas - muito inteligentes ou pouco inteligentes- não sei muito bem o que significam esses rótulos, mas sei, com certeza, o que é uma pessoa chata.Pessoa chata é aquela que se leva muito a sério. Não se pode confundir dois conceitos o da sabedoria e o da inteligência. Qualquer um pode ser inteligente, poucos sabem ser sábios.
Rir de si mesmo é sábio e saudável.
Livrai-nos dos chatos, amém!

sábado, 30 de outubro de 2010

29/10/2010
O Papa falou em democracia?!O Papa em sua última declaração, dirigida diretamente aos bispos brasileiros afirmou que os projetos políticos que contemplam a descriminalização do aborto ou da eutanásia traem o ideal democrático. Esse é o mesmo Papa que quando responsável pela Congregação da Doutrina da Fé, condenou a Teologia da Libertação por considerá-la "política". Nossa perplexidade: Como o chefe maior de uma Igreja que segue mantendo uma estrutura pré-moderna, piramidal e patriarcal pode falar em democracia? Como cobrar democracia dos Estados e líderes políticos, se a Igreja Católica ignora as vozes de seus/as fiéis que há tempo vem pedindo o direito de escolher seus bispos? Só é eficaz a exigência da democracia por parte de quem a vive como um ideal. Democracia inclui o direito de opinar sobre os temas de interesse coletivo. No debate democrático se constroem posições de consensos ou se mantém o dissenso, mas todos/as têm o direito de falar. O Papa, assim como o Rabino, a Mãe de Santo, o Pastor, o Monge Budista e todos/as representantes religiosos devem ser ouvidos e tratados com igual importância. Falar, orientar seus fiéis ou quadros religiosos, não significa tornar-se impositivo, e infringir a lei para disseminar suas idéias, desde que essas orientações dirijam-se unicamente aos fiéis daquela igreja. Mesmo assim, há que respeitar a liberdade de consciência de cada cidadão/ã que deve votar a partir de suas próprias convicções. A escolha cidadã não pode ser tutelada. O bispo de Guarulhos, D. Luiz Bergonzini infringiu os princípios democráticos, a laicidade do Estado ao divulgar os 2 milhões de panfletos contra a candidata do atual governo. Tentou interferir diretamente na consciência eleitoral da população católica. No Brasil há mais de cem anos, vivemos um regime de separação entre igreja e Estado, isso deve ser respeitado. Será que o bispo D. Luiz Bergonzini agiu de forma democrática? O Papa entende que isto é democracia? Há questões que correspondem tão somente aos/às cidadãos/ãs de um país. Eleição é uma delas. Trata-se de um princípio tão fundamental e "sagrado" da democracia que organismos como a ONU enviam seus representantes para que zelem pela retidão de processos eleitorais em países fragilizados do ponto de vista da democracia. Como pode então um chefe de outro Estado, que também é chefe religioso de uma igreja interferir em processos políticos do nosso país? Trata-se de um caso de desrespeito total à laicidade do Estado! O Papa também fala da promoção do bem comum. Quais são os critérios e valores utilizados para definir o "bem comum"? Diminuir o índice de mortalidade materna provocado por abortos clandestinos e inseguros não faz parte do "bem comum"? Nós, Católicas pelo Direito de Decidir - parte desta Igreja formada pelo povo de Deus- vimos a público manifestar nossa divergência com a orientação papal. Afirmamos nossa fé, e entendemos que ser católico/a é ser fiel à própria consciência, um chefe religioso não pode interferir na liberdade de consciência. Esse é um princípio básico do Cristianismo. Jesus também falou aos homens do templo, não se conformou com os hábitos e vícios da hierarquia judaica e é a Ele, que nós seguimos.



Fonte: Católicas pelo Direito de Decidir (www.catolicasonline.org.br)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Entre um trabalho e outro, uma revisão aqui, outra acolá, para refrescar as ideias, gosto de jogar cartas. Com essa finalidade, associei-me ao site jogatina.com. Como avatar coloquei uma foto da Dilma. Eis que sou surpreendida com um aviso do site advertindo-me sobre a proibição e a retirada da foto por ser indecorosa, obscena etc.
Houve uma troca de e-mails entre mim e o site. A foto continua lá.
O que me surpreende é a atitude nazista de quem denunciou a foto. O que me surpreende, mais ainda, é que acusam o PT de ser um partido fascista. Pelo que tenho observado nesta campanha, o ódio é implantado pelo medo de perder. Os argumentos são os mais insólitos possíveis. Fui alcunhada de ignorante por declarar o meu voto em Dilma Roussef.
Parece-me que está no ar uma aura de um neonazismo alimentada pela ignorância e o medo de alguns eleitores.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um cronista



Ainda muito jovem gostava das crônicas de Antônio Maria no jornal Última Hora. Hoje, lembrei-me dele. Talvez porque hoje me sinta com "... cansaço da vida, cansaço de mim... Em verdade vos digo: cansaço da burrice do senso comum!


O pior encontro casual

Antônio Maria


O pior encontro casual da noite ainda é o do homem autobiográfico. Chega, senta e começa a crônica de si mesmo: "Acordo às sete da manhã e a primeira coisa que faço é tomar o meu bom chuveiro". Como são desprezíveis as pessoas que falam no "bom chuveiro!" E segue o parceiro: "Depois peço os jornais, sento à mesa e tomo meu café reforçado". Ah, a pena de morte, para as pessoas que tomam "café reforçado!" E a explanação continua: "Nos jornais, vocês me desculpem mas, a mim, só interessa o artigo de Macedo Soares e as histórias em quadrinhos". Nessa altura o autobiográfico procura colocar-se em dois planos, que lhe ficam muito bem: o que ele julga de seriedade política (Macedo) e o outro, de folgazante espiritual (histórias em quadrinhos).

E vai daí para outra modesta homenagem a si mesmo: "Aí, então, é que vou me vestir. Quanto à roupa, nunca liguei muito, mas, camisa e cueca, tenha paciência, eu mudo todo dia". O "tenha paciência" é porque está absolutamente certo de que estamos com a camisa e a cueca de ontem. "Acordo minha senhora, pergunto se ela quer alguma coisa e vou para o escritório". Gente que chama a mulher de "minha senhora" está sempre pensando que: não acreditamos que eles sejam casados no civil e no religioso; no fundo, desconfiamos de que sua mulher lhe seja infiel. E vai adiante o mal-feliz: "Só aí vou para o escritório, mas nunca antes de passar no jornal, para ver se há alguma coisa". Esse "passar no jornal" é um pouco difícil de explicar. Mas todo homem banal tem muita vergonha de não ser jornalista e alude sempre a um jornal, do qual tem duas ações ou pertence a um primo, ou amigo íntimo.

Vai por aí contando sua vidinha, que termina, melancolicamente, com esta frase: "À noite, eu sou da família!". Bonito! "Visto meu pijama, janto, deito no sofá e vou ver a televisão, com as crianças em cima de mim". Está aí o retrato perfeito do cretino nacional. E, o que é triste, além de numeroso, está em toda parte. Que horror me causam as pessoas do "bom chuveiro", do "café reforçado", os de "Macedo Soares e das histórias em quadrinhos" (os que gostam só de Macedo Soares ou só de histórias em quadrinhos são ótimos), que precisam dizer que mudam camisa e cueca todos os dias, as que citam "sua senhora" e os que "passam no jornal, antes de ir para o escritório". Nossa maior repulsa, ainda, por quem janta de pijama e deita no sofá, com as crianças em cima. Ah, essa gente me procura tanto!

19/10/1959


Texto extraído do livro "Com vocês, Antônio Maria", Editora Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1994, pág. 163.

Partido Alto Bolinha de Papel - Sambistas com Dilma

domingo, 24 de outubro de 2010

Meu nome é João - Despedida

Com este vídeo me despeço da ERA LULA. É antigo, mas sei que algumas metas foram alcançadas. O próximo governo, representado pela Assembleia e pelo Senado, já está eleito seja quem for o vencedor do 2º turno.






sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dançar

A tarde dançante

O título parece estranho. Evidentemente a tarde não dança. As pessoas dançam. Ocorre que “ tarde dançante” é um evento para chamada 3ª idade ( confesso não saber o que será a 4ª idade, a 5ª e por aí vai). Realiza-se no Tijuca Tênis Clube, um clube tradicional no bairro do mesmo nome. A pequena burguesia tijucana é conhecida exatamente por representar, aqui no RJ, a sigla TFP .
Confesso ter um certo preconceito com esses eventos. Dançar é bom em qualquer idade, a boa música também; Bom, vencido o pré-conceito contra a denominação 3ª idade, abri coração e mente e lá fui acompanhada de duas amigas.
Música ao vivo. Músicos da melhor qualidade. E coloca qualidade nisso. Não havia cantores profissionais. Para minha surpresa, os cantores eram os participantes da “tarde”. Senhores e senhoras que, despidos de preconceitos, na sua singeleza e alegria, cantavam, alguns bem, outros mal, músicas das décadas de 50 e 60. Os músicos acompanhavam bem a todos, os bons e os maus.
Não sendo dada a saudosismos, surpreendi-me ao relembrar os discos de 78 rotações ouvidos na vitrola da minha infância. Recordei alguns versos das letras daquelas músicas: “ bar refúgio barato dos fracassados do amor”; “caminhemos, talvez nos vejamos depois”; “ ave maria... rogai por nós os pecadores”; “ninguém é de ninguém” etc. Agora, penso como são tristes essas letras. O amor irrealizável. A traição uma constante. A dor de cotovelo mais constante ainda. Esses temas são cantados, de outra forma, até hoje. Prefiro o hoje.
A tristeza das letras musicais não empanou, nem empana a alegria dos participantes. O importante é o encontro. O traje adequado, os homens com suas calças vincadas. As mulheres com, o salto alto, os vestidos rodados. Todos, homens e mulheres, perfumados. Mas, o importante é a dança, o canto, a música.
Casais rodopiavam no melhor estilo Carlinhos de Jesus. Passos cruzados pra cá e pra lá. Todos graduados em academias de dança do salão. Pode-se tocar samba, mambo, tango, pagode, rock, sinfonias de Bethoven, marcha nupcial, parabéns pra você, baião seja lá qual for a variedade musical, os rodopios são os mesmos. E são rodopios garbosos.
Ao lado da dança e do encontro, hoje, no tempo do ficar, lá estava, ainda, a paquera. Cavalheiros passeiam pelo local, lançando olhares discretos na escolha de suas damas. Olhares enviesados são trocados. Um clima fantástico dos anos 50/60/70..
Quebrado o preconceito, adorei. Ri com a arte da paquera dos meus 18 anos, ri da minha falta de habilidade para a dança de salão ( preciso me graduar nisso. Meus pés, com tanta troca, quase dão um nó!). Um senhor me disse que sou capaz de aprender rápido. Umas dez aulas. Fiquei aliviada! Poderiam ser vinte aulas. Entretanto, o único par que consegui, incentivou-me: pararia de trocar os pés com apenas 10 aulas. Ufa, que alívio!
Ri com as “paqueras” das minhas amigas. Uma delas foi convidada para ir para o andar de cima. Ingenuamente, ela perguntou: O 2º andar?( estávamos no 1º)Não, respondeu ele, quero ir para o além.O moço estava deprimido com morte da esposa e queria morrer para com ela encontrar-se. Todavia,ele estava ali com suas calças de linho branco vincadas e sua camisa pólo azul, paquerando, conquistando. Palmas para ele. Tentava, pelo menos, aliviar a solidão.
A outra, que havia feito megahair, dançava garbosa e galhardamente. Volta de meia, abaixava-se para pegar um fio de cabelo que, eventualmente, descolava. Os cavalheiros não devem ter entendido nada. Afinal, o cabelo era dela e já estava pago.
A tarde que dançava acabou sendo divertida. Uma lição de alegria, bom humor e vontade de viver.

Por que Luiz Inácio incomoda tanto?



Recebi,gostei e deixo aqui registrado



Por que Luiz Inácio desagrada A Caetano Veloso,

por Marta Peres, professora da UFRJ




Grande artista, não faz falta a Caetano Veloso um diploma de nível superior. Seus recentes comentários injuriosos a respeito do presidente com a maior aprovação da História do Brasil são indiscutivelmente coerentes - com sua visão de mundo, com a visão da classe a que pertence, assim como dos meios de comunicação que as constroem incansavelmente, bloqueando qualquer ensaio de questionamento ao seu insistente pensamento único.

Ao se referir a Lula como ‘analfabeto’, o termo está sendo utilizado de forma equivocada, pois ‘analfabetismo’ significa ‘não saber ler nem escrever’. Imagino que ele esteja se remetendo, de maneira exagerada, ao fato de Lula não ter diploma de graduação, coisa que o compositor tampouco possui. Esse tipo de exigência não é nem mesmo cogitada ante outros artistas geniais como o próprio Caetano, ou Milton, Chico, Cora Coralina... Gilberto Gil, ex-ministro do governo Lula, graduou-se, mas não em música... ‘Ah, mas eles são artistas...’. E não seria a Política uma arte? Um pouco de Platão e Aristóteles não faz mal a ninguém...

Quanto à suposta ‘cafonice’ de nosso presidente, situado na revista americana Newsweek em 18° lugar entre as pessoas mais poderosas do mundo, Pierre Bourdieu (1930-2002) nos traz uma contribuição preciosa. De origem campesina, como Lula, o sociólogo francês criou conceitos que desmoronam o velho chavão do ‘gosto não se discute’. Para Bourdieu, não só se deve discutir, como estudar, compreender, aquilo que se trata de, mais que uma questão de ‘classe’, uma questão de ‘classe social’. Além do enorme abismo do ponto de vista propriamente econômico, os ‘gostos diferenciadores’, referentes ao ‘estilo de vida’, consistem na maior marca de violência simbólica e num fundamental instrumento de legitimação da dominação das classes dominadas pelas dominantes. Não somente é desigual a distribuição de renda numa sociedade dividida em classes, mas também o acesso à educação formal e informal - o hábito de freqüentar museus, espetáculos de teatro, música, dança - à sofisticação do vocabulário, às regras de etiqueta, à constituição da apresentação pessoal, dos ‘modos’ e atitudes corporais. Obviamente, alcançar maior poder aquisitivo não possibilita a aquisição desse ‘capital cultural’ adquirido ao longo de toda uma vida no convívio com ‘outras pessoas elegantes’, ou seja, com a ‘elite’. Uma expressão precisa para designá-las, utilizada corriqueiramente na Zona Sul do Rio, é ‘gente bonita’ - como sinônimo de portadores de determinadas marcas de classe evidentes pelo vestuário, linguajar, cabelos, corpos, modos, atitudes. Bourdieu demonstrou os aspectos, às vezes despercebidos, da ‘construção social’ do gosto, seja o gosto de Caetano, das elites, dos que gostariam de ser elite, pretendendo se distinguir da massa supostamente ‘inculta’. Em outras palavras, as classes às quais pertencemos determinam, em grande parte, nossos critérios aparentemente inatos do que vem a ser elegância, numa relação de constante imitação, pelos ‘cafonas’, dos considerados detentores dos critérios de julgamento estético.

Lula não segue a corrente dos imitadores: mantém-se fiel à cafonice que o identifica com suas origens populares. Ah, como isso incomoda...

Embora seja assistido desde tempos imemoriais, lembrando que Norbert Elias estudou como a nobreza francesa era imitada por suas congêneres do resto da Europa no Ancien Régime, aqui, no Brasil, o fenômeno da distinção alcança as fronteiras do ‘nojo’, das reações fisiológicas desagradáveis, diante de tudo que possa remeter a atributos das classes populares, tudo que venha do ‘povão’.

Não é à toa que o REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que tem como objetivo "criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível da graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas Universidades Federais" – seja alvo de críticas ferrenhas, apesar de vir ao encontro de demandas por mais vagas já presentes nos protestos estudantis da França e do Brasil há quarenta anos, os quais, aqui, jamais sequer haviam sido objeto de atenção pelos governos. A demanda por cidadania e não por privilégios restritos é assunto que dá nojo, dá ‘gastura’, como se fala no interior do Brasil. Mas isso são outros quinhentos...

Embora o acesso universal à educação deva ser uma meta, podemos questionar – como muitos eminentes acadêmicos questionam – que a universidade seja a única fonte de conhecimento legítimo, sob o risco de repetirmos, em outros moldes, o papel de detentora do saber exercido pela Igreja Católica Medieval. O que seria de nós sem a contribuição inestimável de tantos notáveis que por ela não passaram?

Pode-se argumentar, contudo, que o referido compositor não tem preconceito de classe, pois pretende votar em Marina Silva que, como Lula, tem origem nas classes desfavorecidas. (O curioso é que, sendo a candidata à sucessão de Lula uma economista, dessa vez, a mesma é cobrada por não possuir mestrado e acusada de ter lutado contra a ditadura militar: sempre inventarão motivos contrários a políticas públicas que ferem ideais de distinção de classe). Ao contrário do que parece, os atributos de Marina caem como uma luva para nossa conservadora classe média leitora do Globo e da Veja e que jamais se assumirá preconceituosa: portar a nobre e indignada bandeira da causa verde faz disparar sua pontuação no quesito ‘elegância’. Os que se preocupam ardentemente com a possibilidade de vida de seus netos e bisnetos são tocados em seu íntimo pelas questões ligadas à salvação das florestas.

Só que, mais uma vez, como a História sempre ajuda a enxergar, o buraco – na camada de ozônio – é mais embaixo: a destruição do planeta é a consequência inexorável de um sistema perverso que nele vem se instalando há alguns séculos. Ao longo de suas notáveis transformações, atingiu um ponto em que passou a se dar conta de seu próprio potencial de destruição e de identificar na preocupação com a natureza uma boa – e quem sabe, lucrativa - causa.

Do ponto de vista das chamadas ‘Gerações’ de Direitos Humanos, ao longo dos desdobramentos do capitalismo, a causa ecológica nasceu como a terceira filha. Enquanto a primeira, a segunda e a terceira gerações são identificadas com os ideais da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - a quarta, mais recente, relaciona-se a questões da Bioética e aos movimentos de segmentos minoritários ou discriminados da sociedade. A liberdade refere-se aos direitos civis e políticos, chamados de ‘direitos negativos’, pois limitam o poder exorbitante do Estado, que deve deixar o indivíduo viver e atuar politicamente. A igualdade consiste na luta pelos direitos sociais, culturais, econômicos, e demandam uma atuação ‘positiva’ do Estado no sentido de realizar ações que proporcionem condições de acesso de todos os indivíduos à educação, saúde, moradia, assistência social, dignidade no trabalho. Finalmente, a fraternidade esta ligada à ecologia, à preocupação com o destino da humanidade, irmanada por sua condição de habitante do planeta Terra.

Como se situaria o Brasil nessa História? Não vivemos mais no tempo de Marx, das jornadas de trabalho de 18 horas que não poupavam mulheres e crianças caindo mortas de fome ao redor das grandes máquinas sujas das fábricas. Hoje, longos tentáculos buscam mão de obra barata como a planta se dirige à luz do sol e os dejetos – da poluição e os seres humanos excluídos da participação em suas benesses - são escondidos do campo de visão dos que têm ‘bom gosto’. Depois de destruir suas próprias florestas, os países ricos se preocupam e ditam regras da etiqueta politicamente correta aos pobres, abraçando a ‘causa ecológica’ com a mesma eloqüência que ontem defenderam que a ‘mão invisível do mercado’ traria a felicidade geral. Hoje, uma mão visível segura imponente a bandeira do orgulho verde. Porém, o corpo do qual faz parte constitui-se de fome, miséria, doença, condições abaixo de qualquer noção de dignidade da pessoa humana. A bandeira parece ser de um médico, mas o sujeito que a segura é um ‘elegante’ monstro. Chega a ser apelativo falar em salvar o planeta tirando de contexto uma causa que ninguém ousará contestar. Mas que tal pesquisar casos concretos de vínculos incontestáveis entre partidos verdes de diferentes países com os setores mais conservadores das respectivas sociedades? Visualizando a imagem do monstro, de braços dados com uma chiquérrima Brigitte Bardot salvando animais, faz todo sentido. A Bela e a Fera...

De modo algum defendo qualquer teleologia e que tenhamos que passar por fases que os outros já passaram. Nem que os sete anos de Governo Lula tenham se proposto a enfrentar bravamente, contra tudo e contra todos, o capitalismo que domina quase toda a superfície do planeta. Ninguém falou em Revolução, aliás, não era esse o combinado. Apenas assisto a um esforço hercúleo de instaurar políticas que ferem o coração desses mecanismos de violência, real e simbólica, que o julgamento do que é ou não cafona só vem a perpetuar, no sentido de minimizar o enorme fosso que separa os que têm e os que não têm acesso a conquistas históricas impreteríveis do Ocidente, independentemente de obediência a qualquer cronologia, identificadas com os direitos humanos: combate à fome à miséria, acesso universal à educação, à energia elétrica, diminuição da desigualdade ímpar que nos assola. Fraternidade, também quero, mas junto com a Liberdade, e principalmente, o que mais nos falta, Igualdade! Não igualdade no sentido anatômico, igualdade de condições, junto com a quarta geração.

Não indignar-se com a miséria, agarrar-se ferrenhamente a seus privilégios, assim como espernear diante de sinais de mudança, faz parte do aprendizado de cegueira, inércia e arrogância por que passam nossas elites com seu gosto sofisticado. Mas ao contrário de um regime de concordância geral, o ideal de democracia é caracterizado justamente pela coexistência de opiniões diversas a respeito das políticas do governo. À insatisfação proveniente de certo campo ideológico correspondem, certamente, avanços jamais assistidos na História do Brasil. Com vínculos ideológicos resumidos na figura de ACM, nutridora de uma ordem social desigual desde 1500, existe uma realmente sincera elite baiana à qual, desagradar, é sinal de que Lula está no caminho certo!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma por Leonardo Boff

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso" pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais", onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avaliza fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), "a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)".
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para "fazedores de cabeça" do povo. Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
[Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra].

* Teólogo, filósofo e escritor

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Li, gostei e transcrevo texto de José Neves


O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro "Mental Obesity", que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna: "Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.  Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."  Segundo o autor: "a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono." 

As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação. 

O problema central está na família e na escola "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada."

Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: 
"O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante. "Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais." Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. "O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades." Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. 
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. "Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

sábado, 24 de julho de 2010

Por que escrever?


Clarice Lispector, no romance Água Viva, nos esclarece:" escrever é a palavra pescando o que não é palavra". Escrever é a possibilidade de quem tem na palavra uma forma de evasão e de (com)partilhar.

Escreve-se para si próprio  e, simultaneamente, para o outro. A palavra pesca o dito e quando acontece o entreleçamento entre o dito e o não-dito mergulha-se numa comunhão universal entre  escritor e leitor porque fazemos parte do mesmo presente temporal e do mesmo futuro intemporal.

Nós, escritores e leitores, somos seres humanos que partilhamos  as dores e as alegrias que o viver e o existir nos impõem.  Somos companheiros de uma realidade quotidiana. Mais tarde seremos o pó da História, o pretérito que se cumpriu para o bem e para o mal.

Essa comunhão universal se traduz numa solidariedade umbilical e cósmica porque " escrever a palavra que pesca o que não é palavra" deixa claro que onde está ou tenha estado o Homem é preciso que esteja ou tenha estado toda a humanidade. Afinal, ninguém é feliz sozinho, nem mesmo na eternidade.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

EPÍSTOLAS - ELIZA E MÉRCIA


O gênero epistolar, se assim podemos chamar, é forma de expressão escrita que - mesmo no tempo do e-mail- merece atenção. Escrever cartas é um exercício da linguagem e do pensamento. Algumas cartas são exemplos de literatura que nos conduzem à reflexão.

Em 1900, no Rio de Janeiro, foi lançada a Revista da Semana. Esta revista circulou por mais de 30 anos. Em 1914, foi inaugurada uma seção que tinha por título "Cartas de Mulher". Esta seção era assinada por Iracema, um pseudônimo que, segundo a revista, "ocultava uma das mais cultas e espirituosas senhoras da elite da sociedade carioca".

De 1914 a 1919, a publicação semanal foi constante. Tratava-se de artigos, sob a forma espistolar, sobre a assuntos femininos.

Destaco aqui um fragmento de uma carta datada de 30 de dezembro de 1916. Nesta carta Iracema fala-nos da concepção de amor para os dois sexos. Escreve ela:

"A concepção do amor é diversa nos dos sexos. O homem exige no amor compensações e satisfações. Para o homem, a mulher é  o objeto, é a cousa amorosa que ele tem o poder de destruir. Para a mulher o homem é a divindade por quem ela se imola. Perante a traição, o homem enfurece-se e a mulher sucumbe".

Neste fragmento, observa-se um problema moral de duplo valor. O homem traído tudo pode, ele tem o poder de destruir. Espanta-nos a atualidade do conteúdo. Na época - 1916- e até hoje, o homem pode se enfurecer. É só ver e ouvir os casos de Eliza e Mércia ocorridos em 2010, ambas morreram por serem consideradas "cousas amorosas" e de alguma forma incomodaram o ego do goleiro Bruno e do advogado Bispo.



quinta-feira, 27 de maio de 2010


Quem representa perigo para a paz mundial?
Quem representa perigo para a paz mundial? O Irã, que talvez pudesse vir a construir armamento nuclear, mas que não ocupa nenhum outro país? Ou os EUA, único país na história que usou a bomba atômica e que possui um arsenal que representa a metade de todo o armamento existente no mundo? - 20/05/2010 ( BLOG do Emir, in Carta Maior)



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Há dias


Há dias nublados


“ .... tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu...”

Acho que é do Chico Buarque.

Há dias...acordamos e perguntamos: Por quê? Para quê? Dias nublados. Estes são os dias da nostalgia. Vontade de chorar com ou sem os porquês. É o chorar para qualquer coisa. Chorar a alma para a dor esvair-se. Não sabemos qual dor. É ela, somente a dor. A dor vazia do vazio.
Não é a dor do amor de Camões, aquela “que nasce não sei onde e dói não sei porque”. A dor de amor é generosa.
Nestes dias doloridos, é deixar a angústia fluir, instalar a dor cruel do tédio. E depois voltar à renovação com a alma já esvaziada. Indolor.
Num destes dias li, na Obra Poética de Fernando Pessoa, este texto que é a tradução deste estado humano d’ alma.



Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e através estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que é meu.

Narrei-me à sombra e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido.
..

( PESSOA, Fernando. Obra Poética/ Cancioneiro. Aguilar. RJ, pág.127)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Saúde e lixo





O papel higiênico é biodegradável. Por que encontramos, nos banheiros, de escolas e hospitais o aviso: “não jogue papel no vaso”?
Fico cá a matutar, com tanta informação acerca das bactérias ( existe até, em um programa de TV, o dr bactéria) por que será o papel biodegradável não pode ir goela abaixo do esgoto? Existe tarefa mais bacteriana do que colocar as mãos, mesmo com luvas, neste lixo?
A rede de água e esgoto foi criada por engenheiros para esta, dentre outras, finalidade. Para o esgoto existe um tratamento da água. Pagamos taxas por este serviço.
Somos, atualmente, conscientizados e ensinados para a reciclagem do lixo. Aprendemos o que é descartável e o que não é. Para o lixo reciclável, separamos e lavamos as garrafas pet, os potes de margarina etc. Tudo lavado e limpo. O papel higiênico biodegradável é pego com a mão por algum ser humano, apesar de se dissolver na água. Para isto existe a descarga em todos os banheiros.
A explicação é que o papel entope o vaso. Como assim?!?!? E a rede de esgoto foi criada para quê? E a descarga? E o biodegradável?
Continuo a matutar: será por falta de uma educação voltada para a saúde sanitária? Ou será por uma consolidação cultural do sistema de fossas já extinto nos grandes centros urbanos?
O sistema de fossa não justifica o fato, uma vez que o papel dissolve. A falta da educação para a saúde sanitária é o mais provável. Limitar a higiene ao banho diário, à limpeza bucal, à limpeza da casa, à troca de travesseiros de seis em seis meses ( esta é a última de um dr bactéria qualquer) etc, é louvável, mas é pouco. Concluo para mim mesma: é falta da educação sanitária. Tornou-se um traço medieval de nossa cultura.
Que no seu lar e na sua casa, você opte por isso é um problema pessoal, mas ser ensinado e adotado por escolas e hospitais é problema nosso

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O saber

 Chamamos médicos, advogados, engenheiros, dentistas de doutores. Em verdade, são bachareis. Especializam-se em alguma área destas atividades.A partir do bacharelado, alguns tornam-se mestres e depois seguem para o doutorado. Há na vida acadêmica uma ordem: graduação - bacharel; pós-graduação latu-senso - especialista;pós-graduação strictu-senso - mestre e doutor.

Não é só na medicina, na advocacia, na odontologia e na engenharia que o título de doutor é pertinente. A rigor, o bacharel, o especialista, o mestre não são, a rigor, doutores. Mas, o uso do cachimbo faz a boca torta.O uso popular consagra. O consagrado pelo povo é inconteste. É sagrado.

Ter  os títulos de mestre e de doutor é uma necessidade do mercado. Não é uma busca espontânea, uma necessidade de conhecer a si mesmo para uma melhor compreensão existencial.

Conheço vários doutores. Aqueles que cursaram o doutorado. A maioria obteve o título em universidade pública. Academicamente, são doutores competentes na área do saber na qual se doutoraram.

Admiro-os. Respeito a tenacidade que tiveram para obter o título. Só quem passou por isso sabe o que é um orientador de dissertação do mestrado e/ou da tese do doutorado. Trata-se de um período de pesquisa, leituras e (re)leituras, escritos e (re)escritos, um ir e vir sem fim. Uma dor e uma angústia densas. Há muito choro e pouco riso. Terminado  este período, há a defesa da dissertação e/ou da tese. Uma banca é formada e começa o questionamento do trabalho apresentado. Um achismo sem fim. Finalmente, o título.

Fica um questionamento: para quê?

Com raras excessões, sem generalizar é claro, os egos inflam-se. O saber, titulado ou não,  é instrumento para a melhoria da qualidade da vida interior.Tornar-se um ser humano melhor, capaz de interagir com o semelhante é o princípio que norteia a ciência da educação em qualquer área do conhecimento .

O saber titulado, inflador do ego, agente da vaidade é inócuo, inválido, beira a idiotia. Principalmente, quando é patrocinado pelo ensino público, pago com nossos impostos.

É dever nosso, contribuintes, prestar mais atenção na formação destes mestres e doutores.

Qualquer ego inflado merece o desprezo. Merece ser defenestrado.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval

Não sendo uma carnavalesca, aproveito o período para um balanço existencial. Resolvi fazer esse balanço em Miguel Pereira. Morei algum tempo nesta cidade. Sabemos que nossa existência é um somatório do passado aliado ao presente. Só presente existe e ele é modificado a cada (re)visão. Por ser uma pessoa vivente do presente, não sei se vale à pena fazer viagens ao passado(?).
Talvez o excesso de alegria do carnaval me assuste um pouco. Os excessos me assustam.
Ser alegre é um constante estado da alma. Há almas que são sempre tristes. Parecem que tomam chá de melancolia. Essas almas melancólicas, no carnaval se travestem de uma alegria temporária. Mas, o tédio está lá. As almas tomam medicação para que possam se travestir seja cerveja , seja uísque, seja caipirinha. E a melancolia renasce na 4ª feira de cinzas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Leituras, reminiscências e vozes do passado


Fui fazer um visita ao blog tanto mar da poeta Líria Porto. Lá, li o poema Pedregulho. Um belo texto. Uma coisa leva à outra e lembrei-me de uma crônica de uma amigo nosso, meu e da Líria, Wanderley Soares. Soares é jornalista do jornal O Sul, em Porto Alegre. Mas, houve um tempo, quando não estava assolado pelo trabalho de escrever sobre segurança pública, escrevia poemas, contos, crônicas. Transcrevo o texto que o Pedregulho da Líria me fez ouvir as vozes do passado.

Nós: águas e pedras
por Wanderley Soares

Nós, águas e pedras

Das águas mansas de lagos e rios, são longas, quase silentes e ocultas, as venturas. Não revelam, sem castigo, aos aprendizes de navegadores, suas delícias, seus baixios, suas neuroses, seus abismos devassos. Quando em vestes de megeras, têm o toque das fadas. Ao se materializarem em Vênus, contêm o veneno das tarântulas. Seus códigos não são definitivos. Como no cosmo, nada nelas se eterniza. São insondáveis as águas mansas e, por isso, assola-me o temor da mansidão dos teus olhos.
Das águas frementes dos oceanos, não são velados seus perigos, suas correntes, seus instintos invasores. Não são ocultas as baías, as áreas de calmarias, as ressacas, os romances obscenos com os rochedos. Mas marinheiros, viajores de todos os mares, sabem que nada é definitivo nos códigos dessas águas que parecem tão francas, tão reveladoras. Elas têm os mesmos cúmplices das águas mansas. São os ventos que se vão e tornam em horas não marcadas, ora sóbrios, ora borrachos; são as nuvens, ora a adornar os céus, ora a ocultar o sol e as estrelas; são as tempestades errantes. São insondáveis as águas ruidosas e, por isso, assola-me o temor das imensas vagas da tua paixão.
As pedras que vemos por aí a rolar, têm vida longa. Elas testemunham, passivas, seus próprios destinos e os destinos daqueles que ora as fustigam, como os ventos assustadores, ou daqueles que ora a acariciam, como a brisa enigmática vinda dos lagos e rios ocultos entre os vales. E rolam a pedras, sem dor, numa viagem cósmica de cometa sem órbita.
Nunca sei quando estás por chegar a mim como uma tempestade, como um tornado. Nunca sei quando estás por chegar a mim como um lago ou como um rio brando. Assola-me, por isso, o temor de, como uma pedra, me perder de ti e não morrer.
As montanhas, anciãs e sábias, gozam e sofrem, a um tempo só, todos os tempos em todas as eras. Em seus alcantis, do sopé à coroa, castelos foram construídos, reis reinaram sobre todos os restos, pois aos restos sobra a planície em que se aninham os párias. E todos os que nas montanhas reinaram, olvidaram que eram as montanhas, apenas as montanhas, que reinavam para todos os tempos, em todas a eras. E se quedaram e se quedam os que ilusoriamente reinaram e reinam.
Trazes tu, de outros tempos, o estigma das montanhas. Assola-me o temor, por isso, de me quedar de ti, da coroa ao sopé, e na planície restar.

Para pensar


DEBATE ABERTO

O ódio da mídia e a primeira vitória de Lula

O rancor da mídia corporativa tem que ser contemplado como pano de fundo de uma grande derrota. Suas ameaças só não são trágicas porque, ao arreganhar os dentes, a grande imprensa introduz notas burlescas no discurso que se pretendia ameaçador.

Gilson Caroni Filho

Se a deontologia do jornalismo não contempla a divulgação de matérias partidarizadas como se fossem notícias apuradas em nome do leitor/telespectador, o telejornalismo brasileiro, principalmente o da Rede Globo, anda precisando redefinir qual é a natureza do seu verdadeiro ofício. Que fato objetivo deflagra tanta empulhação em horário nobre? Que registro simbólico almeja sua busca de sentidos? Qual a necessidade de construção permanente de imagens desfavoráveis ao governo e, em especial, ao presidente da República? Enganam-se os que pensam que as respostas a essas questões residem apenas nas próximas eleições. Lula, por seu significado histórico, representa uma fratura bem mais profunda do que pode parecer à primeira vista.

Ao obter mais de 30 milhões de votos em 1989, o ex-líder sindical apareceu como condensação das forças sociais que se voltavam para a demolição tardia do antigo regime. Contrariando prognósticos de conceituados analistas, sua candidatura teve gás suficiente para enfrentar as máquinas partidárias de velhos caciques. Mesmo derrotado por Collor, que representava a reprodução do passado no presente, o desempenho de Lula prenunciou, de forma categórica, o fim de uma “democracia” que só era possível mediante pacto de compromisso entre as velhas elites políticas, civis e militares. Essa foi sua primeira vitória. E a Globo disso se deu conta.

O embrião de um novo espaço histórico, capaz de conferir peso e voz aos de baixo na sociedade civil, na cultura e no arcabouço estatal, estava lançado. Com uma indiscutível capacidade de antecipação histórica, a família Marinho, que construiu seu colosso midiático como um Estado dentro do Estado- e muitas vezes acima dele- pressentiu o ocaso dos dias gloriosos. Como principal aparelho de legitimação da ditadura militar, as Organizações sempre vislumbraram a democracia como processo fatal à sua supremacia. E essa era uma avaliação correta. Deter o movimento profundo que vinha das urnas seria impossível.

A centralidade de Lula e do Partido dos Trabalhadores no cenário político era o avanço do cidadão negado, desde sempre, em sua cidadania. A construção da nova história objetivaria também o significado das eleições seguintes. Até a vitória em 2002, o acúmulo de forças trouxe à cena as esperanças políticas das classes excluídas. O rosto sofrido, que se contrapunha tanto à estética das modernizações conservadoras quanto à ética do neoliberalismo rentista, já não temia as bravatas e espertezas do adversário.

O rancor da mídia corporativa tem que ser contemplado como pano de fundo de uma grande derrota. Suas ameaças só não são trágicas porque, ao arreganhar os dentes, a grande imprensa introduz notas burlescas no discurso que se pretendia ameaçador. O diagnóstico que denuncia o fim da festa sai, ainda que codificado, dos débeis sustentáculos da credibilidade que lhe sobrou junto a setores protofascistas da classe média.

Ao criminalizar movimentos sociais, criticar a política externa tentando estabelecer paralelos entre Caracas e Tegucigalpa, e censurar premiações internacionais recebidas pelo presidente, o jornalismo produzido vai desenovelando a história da imprensa brasileira com impecável técnica televisiva.

Resta-lhe o apoio de uma direita sem projeto, voraz, cínica e debochada. Esse é o único troféu que ostenta em 2010, após ter sofrido o baque inaugural há 21 anos. Na década de 1980, ainda valia editar debates e fazer uso político de seqüestro de empresários. Afinal, não seria por apoio governamental que conferências debateriam monopólio e manipulação midiática.

Em outubro, a Globo não estará apostando apenas na candidatura de José Serra. Buscará, mediante retrocessos de toda ordem, garantir a sobrevida de uma ordem informativa excludente, incompatível com as regras mais elementares do Estado Democrático de Direito.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Miguel Torga



Gosto deste autor. Lúcido. Consciente da condição humana. Um crítico da política e educação portuguesas.Sobre a descolonização escreveria:
"fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010







Mais um texto da Sônia. O amor é tema recorrente nos versos desta poeta.O site da Sônia é miscelâneo. Há artigos, crônicas, contos e outras "cositas mas". Em verdade, é uma revelação das várias facetas desta escritora.
Neste poema, temos a falência não do amor, mas de uma alma rota que, apesar da bancarrota, ainda deixa o coração a pulsar sem medo na busca de vencer a crise econômica-emocional-física .

BANCARROTA (SÔNIA MOURA, in www.idéiaseversos.com.br)



Gota de lágrima

De uma alma rota

Põe quem ama

Na rota

Da bancarrota



Amarga

A boca

Embrulha

O estômago

Enrijece

O corpo

Entorpece

A mente



Para tudo!



Somente

O coração,

Insistente,

Bate

Descompassadamente



E, sem medo

De isquemia ou de embolia,

Descontrolado

Em disritmias

O perdido coração

Segue em frente

Em busca de salvação

Em busca de milagre

Em busca de magia

Em busca da devolução

De um outro coração

Que saiu

Da sua rota

Deixando

Quem ama

A mendigar

O amor falido

Pobre ser perdido e

Na bancarrota

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um homem,uma mãe, espelhos e o masculino.


Em postagem anterior, destaquei textos de três mulheres que tratam do universo feminino. Aqui destaco uma declaração de amor escrita por um homem. O poeta é Flávio Silva Corrêa de Mello. Flávio é meu filho. Não por ser meu filho, destaco o poema " Espelhos". Destaco porque é bom. Por força do ofício, tornei-me uma leitora bastante razoável. Por modéstia, não digo ótima. Escritora, não o sou. Nem pretendo.
Por força de ser mãe, sou uma leitora do Flávio desde...sempre. E desde sempre o achei bom escritor. Por modéstia, não digo ótimo.
Para minha culpa materna/ eterna e carregada sobre os ombros, nunca fui mãe ternura-coruja. Fui e sou mãe dever-generala. Mas sou mãe-amante. Amo meus filhos, não só por serem meus filhos, mas por serem homens do bem. Seres humanos que compreendem e sabem conjugar amor e dever.
Neste texto, o poeta deixa clara fragiligade/força do amor a dois. Amor e sexo são pasta de vidro. A rotina é na cama e na louça. A plenitude-luz é tentar iluminar o outro como "espelhos que se roçam". Amor sem pieguices. O erótico sem vulgaridades. É uma declaração de amor sem banalidades.
Digo, cheia de corujices, muito bom!

Espelhos
(de Flávio Corrêa de Mello, in Rio Movediço -blogspot)
para Flávia


Dois espelhos colados.
Frente e verso. Reversos.
no meio dos dois a cola,
a linha espremida
e sufocada. Ali, nós,
como lençol
grudento de suor,
somos pasta de vidro.

Ali no meio somos amor,
somos no nome
- a essência é o nome.

Se a cola é úmida ou seca,
Se o amor é na cama ou na louça,
somos o diário, o cotidiano
de dois espelhos que roçam,
gripam e espaldam
quando o sol desponta,
quando a rusga aponta.

Esse é o encontro
daquilo que nem
sabemos o quanto
e o como,
o quando e o que se é:
o nome, a força, a constância,
então refletimos, sim
refletimos, apenas isso,
refletimos cada um
seu modo de iluminar
o rosto do outro.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Três mulheres: Sônia... Líria...Marina.


Conheço Sônia Moura. Amiga das longas conversas, do trabalho, das lágrimas poucas e do riso farto. Acompanho os escritos de Sônia a partir da publicação de seu primeiro livro de contos Doze Mulheres.
Conheço Líria Porto. Nunca nos vimos em carne e osso. Conhecemo-nos por meio desta máquina e, mais tarde, por telefone. O início de nossa amizade deu-se no uso da 2ª pessoa. Por e-mail, ela enviou-me este “de família”. Acompanho os escritos de Líria desde 2001.
Conheço a escritura de Marina Colassanti. Sempre numa perspectiva subjetiva-analítica do universo feminino e social. E assim são seus contos, suas crônicas e seus poemas.
Essas mulheres são como o vinho. A cada dia, hora, minuto e segundo ficam melhores.
Seus escritos são vinho tinto que, numa taça de cristal, não se vê o fundo. Para saboreá-los, tem de se beber vagarosamente. Sentir o sabor e a espessura doces/amargas do viver. O sabor e o saber de ser mulher.
Transcrevo aqui três escritos destas mulheres que falam do existir, amar e sonhar.

1º escrito: existir

de família
líria porto(por e-mail- um presente da Líria)

mãe era serei_a
cheiro de flor e manhã

tinha manto verdejante
e nove filhotes no canto

pai era mar
ia e vinha

: supria a casa de sal
e peixes

eu
grão de areia
abismado
existia

*

“de família” é instigante nos recursos estilísticos da pontuação desta máquina chamada computador. O uso de "underline" e do asterisco estão perfeitos. Quanto à forma e conteúdo está aí estrutura da família tradicional. Metáforas perfeitas. O homem é pai-mar. A mulher é mãe - grão de areia abismado.

2º escrito: Amar
ETERNIDADE
( Sônia Moura) in www.soniamoura.com.br

Eternamente

Quero ser sua

Eternamante


Eternamente

Quero ser sua

Namorante

Constante

Inconstante

Vibrante


E, eternamente,

Quero deixar o tempo

Fazer de meu amor

A sua casa

Para que você

Se quede radiante

Ante

Os desejos mais brilhantes

Aqueles que só entendem

Os que são

Eternamente

Amantes (Do livro: Poemas em Trânsito )

Aqui Sônia brinca e brilha no uso do sufixo ante para falar do amor. Ser capaz de Amar é força vital no universo feminino. Mulher é éter, é amante. Inebria e radia quando ama. Toda mulher anseia amar e ser amada. Neste poema, é prioridade amar.



3º escrito:sonhar
Marina Colassanti (in Rotas em colisão, ed Rocco)

Sexta-feira à noite

Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.


Neste sexta-feira, o tédio. O sexo sem fantasias. A rotina. Mas, lemos, principalmente, a capacidade feminina de sonhar.

3 poemas, 3 mulheres e a essência do feminino.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lerna


Num dezembro qualquer, um aborrecimento muito sério levou-a ao fundo do poço da existência. Este aborrecimento causou pane no emocional e, consequentemente, no físico.

A partir daí, procurou entender o mito da hidra do Lerna.

A hidra tem 9 cabeças. Representam elas:
o desejo sexual intenso;
a prioridade do conforto material;
o dinheiro como fonte de felicidade;
as paixões desenfreadas;
o ódio aliado ao desejo de vingança;
o poder;
os vícios;
o orgulho quando é arrogância;
a crueldade.

Para vencer e encontrar a paz e a felicidade internas, a hidra deve cortar as nove cabeças e entregá-las ao pântano de Lerna que tudo suga.

Dedicou-se ao trabalho de repensar a os conceitos e (pré)conceitos existenciais para sair do fundo do poço. Analisou as 9 cabeças. Ficou doente emocional e fisicamente. Encarou-se de frente e começou a achar o caminho do Lerna para entregar ao pântano os aspectos nocivos dessa representação simbólica.

Quando nos entregamos às nove cabeças hídricas, corremos o risco de tornarmo-nos menos humanos e perdermos o prumo de uma vida plena. Tornamo-nos teimosos-arrogantes e instalamos, inconscientemente, a perda.
Perdemos o Prazer da beleza do sexo, do amor, do conforto, do trabalho.
Entregou todos os negativos ao pântano.
Desinstalou a perda e (re)viveu!

"Uma bem desenhada ficção"


A bipolaridade do ser humano é o traço mais encantador do fato de sermos apenas humanos. Leitora do Barroco, aprendi a luta constante entre nossos opostos. Um não existiria sem o outro. Sem o ódio, não saberíamos o que é o amor. Não por acaso o poema Cântico Negro,de José Régio, é, dentre muitos outros, um dos meus prediletos.
O verso " nasci do amor que há entre deus e o diabo" traduz, para mim, a nossa fragilidade existencial.
Transcrevo, aqui, o que o jornalista Wanderley Soares publicou em sua coluna, no jornal O Sul, por ocasião do Natal de 2009. Um outro viés que nos coloca frente à nossa dualidade.


" Iguais
Aqui da minha torre, como um humilde marquês, todos os dias, tento descobrir os segredos dos escaninhos de um universo árido e amargo. Andejo dos becos da sarjeta aos salões da Justiça e, sem raridade, vejo, nos dois extremos, figurantes com princípios iguais. Em cada nova cena deste espetáculo imprevisível somente é possível ver que o leão nasce e morre leão, como acontece com a cobra, que nunca deixa de ser cobra.

A criatura humana, no entanto, traz, dentro de si, os instintos do cordeiro e da víbora. Nesta moldura, durante as festas religiosas - e, para os cristãos, o Natal é a comemoração maior - a idéia é a de que todos nós somos cordeiros irmãos. Trata-se, este momento, de um delicioso desejo e uma bem desenhada ficção. Valendo-me, então, deste hiato na aridez e na amargura do universo em que, a cada dia, vasculho, tento controlar, em mim, o cordeiro e a víbora e, sendo uma criatura comum, deixo aqui o meu poema e a mensagem de um Feliz Natal a todos os meus iguais".

Fumar II





Ela teve uma infância segura. Uma família que lhe deu um norte. A mãe dizia-lhe sempre:”- marido de mulher é emprego”. Cresceu ouvindo este lema. Assim dedicou-se ao estudo, única forma, segundo a mãe, de crescer na vida, ter um bom emprego e não depender, financeiramente, de ninguém.
Viveu plenamente as décadas de 60 e 70. Admirava Simone de Beauvoir, Jean Paul Sarte e outros tantos de sua época.
Em 1962, prestou concurso vestibular para a faculdade de Direito do Estado. Tinha 18 anos e era uma universitária. Ainda estudante, trabalhou como secretária, telefonista internacional. Queria ter o seu próprio dinheiro para ir ao teatro, ao cinema, comprar os livros de que gostava. O pai dava-lhe casa confortável e comida farta. A mãe, o incentivo para o estudo e o trabalho. Os dois davam amor e segurança. Mais não podia querer.
O estudo e o trabalho não a impediram de namorar, ir à festas e, principalmente, ir ao cinema. Não perdia um filme francês da nouvelle vague. Fã ardorosa de Fellini.Nos filmes, as atrizes fumavam. Achou chique, passou a fumar. Gostou. Estimulava a concentração no estudo e no trabalho. O cigarro passou a ser um elemento de pausa para colocar o pensamento em ordem. Nos filmes, também, bebia-se. De bebida, não gostou. Tornou-se fumante, mas não bebante. Nunca teve interesse por outras drogas, apesar do cinema tê-las difundido. Mais tarde, a televisão aliou-se ao cinema nesta propagação das drogas lícitas e ilícitas.
Como diz o senso comum, nada acontece por acaso. Um colega de faculdade quebrou a perna. Ele era professor de inglês em uma escola particular e como sabia que ela era formada pelo curso Oxford e trabalhava usando o idioma, pediu que o substituísse por 10 ou 15 dias. Bendita substituição. Descobriu naquele momento a sua vocação. Sentiu-se feliz ao ministrar aulas.
Formou-se em Direito e em Letras. Dedicou-se à Literatura.
Gostava do que fazia. Sentia-se uma Educadora que usava a Literatura como um meio de formar seres humanos íntegros e antenados com o seu tempo. Com a Literatura, ensinou-os a amar e compreender a importância do saber ler e escrever para alcançar a estesia. Diziam-na ser muito inteligente. Ela mesma nunca soube o que era ser inteligente. Mas gostava de ouvir e chegou a acreditar.
Namorou. Casou e. descasou. Amou e foi amada. Foi desamada também. Educou os filhos que teve. Dançou. Riu. Chorou.
Ainda namora, ama, desama, dança, ri, chora, trabalha e estuda. Sobretudo, tem filhos íntegros e paga seus impostos.
Esta mulher tem algumas dependências químicas. A primeira é a do bom humor; a segunda é a necessidade de amar e aceitar o próximo; a terceira é o cigarro, ainda, lícito.
Mas, hoje, por ser fumante, esta mulher é um ser excluído de todos os locais sustentados pelos impostos que ela mesma paga.
Ela é fumante, não é doente na alma. Amar e não ser amado, mau humor, ressentimento, rancor matam mais que o cigarro. A bebida também.