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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Solegria

Sempre teve medo da palavra solidão, talvez, por isso, fantasiava-se de alegria, palavra da qual não tinha medo. Fazia do humor a sua arma para o viver e cercava-se de gente, mas evitava a intimidade do eu que há nas "gentes". Na verdade, negava o seu próprio eu.
Estudou,trabalhou, namorou, casou, pariu. Fez tudo como ditam as regras sociais. Sempre se perguntando o porquê e para quê de tudo isso. A rotina do viver dia-a-dia sempre a conduzia a essas interrogações.
1-Por que estudar? ...?...? Enfim as respostas:para conhecer-se, descobrir caminhos, compreender-se e estabelecer seus parâmetros;
2- Por que trabalhar?...?...? Para descobrir o prazer da independência financeira e concluir que pagar pelo seu próprio pão com manteiga não tem preço;
3- Por que namorar e casar?...?...? Pela procura do amor aprendido nos filmes açucarados de hollywood e/ou nos romances tão igualmente açucarados e, nessa procura, aprender os conceitos de realidade e de ficção. Estabelecendo, vivenciando e contrapondo os conceitos, aprende e compreende que muitas dessas relações mascaram o tal medo da palavra solidão;
4- Por que parir? Sem reticências, sem interrogações. Ser mãe é fato incontestável, não há retorno. Revela-se, para ela, a dependência emocional da condição feminina da Mãe em relação aos filhos.
Depois de estudar, trabalhar, casar mais de uma vez, cercar-se de "gentes", buscar pelo amor romanesco,dançar, rir e chorar, viu-se sozinha.
Novo aprendizado: o de perder o medo da tal solidão. O primeiro passo foi compreender o conceito de solidão. Observa o comportamento das pessoas, analisa seu próprio comportamento e compreende que, apesar do medo e dos vários processos de fuga, sempre foi um ser solitário. Neste momento da sua existência, aprendeu que, apesar de seus feitos e desfeitos, poucas pessoas a conheciam e nem ela se conhecia.
Sempre foi tida como um ser "politicamente incorreto". Declarava abertamente que não gostava de animais, de plantas, de crianças e que ser mãe não era a maravilha que o cristianismo intentava/intenta impor. Os seres vivos geram dependências e cuidados e qualquer dependência física a incomodava. Para a dependência emocional tinha paciência, mas pouca. Reconheceu ser a impaciência a sua constante marca e que era incapaz de sentir compaixão pelo ser humano. Compreender o humano conseguia, compadecer-se não.
Ao reconhecer-se insegura, medrosa e solita, perdeu o temor da solidão que permeia a existência e descobriu a alegria do estar só. Ser só todos nós somos e assim perdeu o medo da palavra solidão e fundiu as duas sensações numa só/solegria.

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