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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma crônica de Wanderley Soares sobre o papel da mídia na cobertura das tragédias.

WANDERLEY SOARES

A matança e o show.

A tragédia de Realengo pode ser fonte de um bestialógico.

A matança ocorrida numa escola municipal, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, cujas vítimas tinham entre 10 e 14 anos, não pode ser analisada de forma apressada, sob pena de se criar um bestialógico em torno de uma tragédia que seguiu o modelo da cabeça bélica de alguns cidadãos dos EUA. Vale discutir o tema, mas dentro dos padrões que regem a segurança das escolas brasileiras e a própria segurança, em geral, dos cidadãos deste país que vive a transversalidade (palavrão da moda) de eventos como a copa do mundo e de uma olimpíada. Nos bancos, para que o dinheiro esteja protegido, ninguém pode entrar na área dos gerentes portando telefones celulares e chaveiros com muitas chaves. Nas escolas, guardinhas que sequer conseguem deter pichadores chegam a ter maiores temores que o próprio corpo docente (a maioria mulheres) das nossas grandes e pequenas escolas.


Neste espaço tenho abordado esse tema repetidas vezes. O medo é uma constante nas escolas brasileiras. Os professores temem, pela educação que hoje existe (ou não existe) nos lares, temem, repito, as repetidas agressões de pais, alunos e ex-alunos. É brutal que somente uma explosão como a que aconteceu no Rio, ontem, possa acordar o poder público. Evidentemente que escrevo estas linhas movido pela indignação natural de quem está assustado, desde há muito, com as tempestades que, diariamente, desabam em salas de aula, onde os princípios civilizatórios, teoricamente, começam a ser ensinados e praticados.

A mídia eletrônica e o show.

Sabemos que é inevitável a influência da cultura estrangeira sobre nós que, não raro, felizmente, nos enriquece. No entanto, tal influência também nos aprisiona em momentos de mediocridade. Temos no país, o Rio Grande resiste como pode, as vestes dos vaqueiros do velho oeste dos EUA, assim como o ridículo dia das bruxas, entre outras coisas. A cultura da violência também nos é transmitida, pela TV, em doses cavalares. Nunca homeopáticas. E o pior de tudo é que isso nos chega em forma de show mostrado, simultaneamente, para pessoas de todas as idades. Confesso, como um humilde marquês, não conseguir visualizar uma solução para isso. A TV não consegue separar a notícia do show. Ontem, a tragédia de Realengo, na TV, foi notícia e show festejando a chegada aqui do modelito dos heróis traumatizados pelas constantes guerras promovidas e mantidas pelos EUA nos fronts e nas escolas.

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