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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Piedade para os homens ?!?!?!. Será?

É obtusa a referência sobre as diferenças entre homem e mulher. Obtusas também são as expressões:" os homens são assim, as mulheres são assado" ou ainda, " isso é coisa de homem" ou "quem vai entender as mulheres?" Por motivos culturais e biológicos o homem e a mulher percebem a existência do ser, do existir e do viver de formas distintas, essa distinção, porém só enriquece a vida com a finalidade da complementação. Homens e mulheres completam-se. Homens e mulheres são apenas seres humanos que amam, (des)amam, odeiam, (des)odeiam, choram, riem. Não há diferenças nas emoções básicas que norteiam o existir. Assim reflito sobe a crônica do jornalista Wanderley Soares cujo título é" Perdão para a mulher" e foi publicada no jornal O Sul. Segue o texto:

"Perdão para a mulher.

Acompanho as pessoas que passam pela vida com a displicência de quem dança uma valsinha.

A catálise que desencadeia um crime de sangue é um processo que me fascina e, mais do que outros, os casos passionais. Busco observar cada um dos movimentos que envolvem esta implosão humana. Vez por outra sou levado a voltar a este tema sempre com a tentativa de esquivar-me das definições e da linguagem insípida de profissionais que tratam, com frieza e distanciamento técnico, cada caso diferente com os mesmos códigos. Não questiono a visão de peritos, psicólogos, psicanalistas, policiais ou juristas que devassam o relacionamento das pessoas desde a primeira chama ao momento do incêndio final. No entanto, minha visão é a do neófito, sempre tolhido pela emoção.

Acompanho as pessoas que passam pela vida com a displicência de quem dança uma valsinha, preocupadas apenas com seus pares. Há nelas alguma habilidade, coordenação motora, ritmo respiratório, leveza de movimentos. Mas as regras não são complexas nem profundas, pois a valsinha, como o vento leve, é fácil de se acompanhar, de levar e ser levado. E são exatamente essas pessoas, viajantes dóceis na condução ou na obediência de seus pares, que, de um salto, são tomadas pela fúria passional. Raramente, antes da inteira conquista, aparentam ser nascentes da força de onde ascenderá e acenderá a grande e incontrolável erupção.

O oferecimento de emoções mais fortes, inadiáveis e nunca latentes parecem pertencer a um raro tipo de personalidade, cuja simples presença desencadeia reações místicas, quase que inexplicáveis. Percebemos isso na política, nos religiosos, na magistratura, entre militares. Nessas confrarias, os movimentos de um avatar ativam e submetem os senti-dos de seu grupo. Nesses cleros, testemunhamos, são exclusivos os mistérios dos caminhos a serem percorridos e, exatamente por isso, são poucos os que completam todos os percursos. Aqueles que a tudo alcançam nunca chegam ao cimo sem brilho, sem esmagar, insensíveis, aos que se arriscam a enfrentá-los.

Mas o homem medíocre, aquele da valsinha, também movido por indefinível energia, veleja em mares de exceção, mas sem fazer vibrar nenhum dos nossos sentidos ao ponto de desequilibrar até o momento em que se revela na plenitude. Chega a seu destino sempre por caminhos próximos da obscuridade. Sequer projeta sombras que provoquem algum temor. O iluminado arrisca, tem gestos vibrantes e sonoros que arrastam grupos, multidões, sempre na iminência de se desintegrar. No entanto, é aquela criatura que dança a valsinha a que mais surpreende com planos faustianos alimentados por frustrações pequenas, imperceptíveis.

E a mulher? Ah, a mulher! Mesmo ao correr todos os riscos, chego a crer ser ela que, com dolo, ativa esse feixe que incendeia o cérebro e o coração dos homens, pondo em fuga os que tem luz, tornando cativos e indefesos os medíocres. Reina em silêncio sonoro com um toque de mistério oculto no fluxo de seus olhos, por vezes, luminosos e frios, ou no simples gesto de olhar e fingir não ver. É tudo simples. Tão simples que o homem fascinado desgoverna-se sem conseguir definir onde foi atingido. Persigna-se ou agride para destruir pensando em construir. É o sangue passional. Ainda assim, a mulher sempre merecerá o meu perdão, embora ela jamais necessite dele".

Este jornalista, cujos textos acompanho há algum tempo, tem na sua árida área de atuação um estilo próprio. Bom em tecer a prosa poética aliada ao jornalismo policial/criminal.

Os 3 primeiros parágrafos nos induzem à compreensão do comportamento do ser humano- homens e milheres-, aquele que vive ao sabor dos acontecimentos. A partir do 4º, entretanto, instaura-se, sutilmente, uma referência ao gênero masculino e estabelece uma diferença entre os homens medíocres e os iluminados.

No último parágrafo, fica clara a intenção do autor: Os homens e mulheres são diferentes, mas há " dolo" na existência do feminino, isto é, só a mulher age com astúcia, má fé e premeditadamente. Será que, na visão do jornalista Wanderley Soares, é a mulher a causadora dos crimes passionais e que só os homens medíocres são induzidos por ela?

Eu apenas compreendo homens e mulheres seres sujeitos a igual emoção humana, mas aderindo à obtusidade: pergunto será o caso de piedade para os homens que sentem medo de amar e serem traídos? Será o caso de piedade para os homens que, dolosamente, seduzem somente pelo prazer da sedução e jamais se doam por insegurança?

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