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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mudanças - para o Flávio.

Sempre achamos que sexta-feira é dia de balanço. De limpar a casa, dar uma remexida nos móveis, arrumar algumas gavetas, acender vários incensos e deixar que estes pequenos rituais se encarreguem de anunciar o final de semana.

Pegamos, findo o ritual, um livro para ler. Se a leitura é interessante nela nos fixamos. Porém, de quando em vez, nos pomos a pensar. E nos vêm à mente as amigas e amigos que compartilham comigo suas histórias. São histórias, também, minhas .


Contamos as separações doídas de companheiros/as de muitos anos ou de casamentos cobertos de pó, falamos de cansaço, de mães doentes, de pais agora carentes e frágeis, da constante preocupação com filhos. Falamos da dor, da perda e das saudades. Sentimos saudades do amor, da falta de alguma coisa. Há sempre um tumulto no peito. Uma urgência na alma. Algo de novo precisa acontecer.


Em geral, costumamos pensar na adolescência como O grande momento de crise, de metamorfose. E, sem dúvida, passar de jovem para adulto, é uma mudança e tanto.


Minha percepção, ao longo da vida, é que as marcas de quilometragem numa estrada estão espalhadas em muitos turning points, como dizem os ingleses naquela sua língua tão sintética. Existem pontos da nossa trajetória em que nós precisamos (re)pensar e mudar para continuar dançando com a vida.


Crescer, envelhecer, preparar-se para morrer são apenas alguns destes pontos. Vivemos uma espécie de hiato, um “entre parênteses”, separando aquilo que vivemos até agora e o futuro que precisamos parir de nós. Nossa incoerência é pensarmos que podemos controlar o futuro.


Tentemos nos lembrar de todas as histórias de herois e de heroínas que lemos. Elas começam sempre da mesma forma. Lá está o personagem principal vivendo sua vidinha, sequer está consciente da grande aventura que vai viver. Está, contudo, cheio de um vago mal-estar causado pela mesmice. Assim como nos livros, estamos nós, personagens da nossa própria história, cansados das nossas estradas rotineiras. E é exatamente aí que acontece o INESPERADO.


De repente, como se fosse um mero acaso, acontece um erro, um mal-entendido, um “algo” que vai mudar os rumos da nossa história . Parece-me que Eva quando aceitou a maçã da Serpente, ousou por todos nós o mergulho na grande aventura humana.


O INESPERADO altera o horizonte familiar. Agora, temos de lidar com forças desconhecidas, mas que nos conduzirá ao “despertar do eu”. O final feliz das histórias, na verdade, é um “enfim sós” com o “você mesmo”. Nós e nossa alma estamos, finalmente, afinados.


É evidente que o caminho da aventura não tem nada de fácil, ao contrário, é muito duro. O conselho dos sábios nos Upanishades hindus nos alerta: Acorda, levanta, pois o caminho é como a lâmina de uma navalha afiada, difícil de atravessar”.


É triste imaginar que cada um de nós pode estar sendo chamado para viver o seu destino, o seu INESPERADO agora mesmo. E, por vezes, não percebemos este chamado, ou se o percebemos, por medo ou acomodação, preferimos ignorá-lo


Precisamos estar atentos quando sentimos a urgência da mudança. Quando nos pegamos pensando: “algo de novo precisa acontecer”, “preciso mudar de vida”, “quero começar uma nova fase”. É necessário que fiquemos atentos aos sinais, aos avisos do acaso. Sei e todos nós sabemos que isso é fácil de falar e escrever. O difícil é aprender a abrir a alma para a percepção destes sinais. Sei, todavia, que só assim estaremos preparados a aceitar, sem medo, o convite do destino. Só assim poderemos abrir os braços para a aventura do viver.


Em verdade vos digo não sei como fazer, mas estou tentando.
















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