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domingo, 19 de julho de 2009

Sobre vinhos e sobre beijos



Entre beijos e vinhos

A leitura é, antes de tudo, um prazer. Existem várias formas de ler: o ler-crítico, o ler-lazer, o ler-amor. Essas diretrizes determinam o tipo de leitores que somos – felizes ou severos. Nossos olhos não deverão jamais entrar no universo do crítico literário, que é um leitor severo. O crítico literário não lê com o coração, não é afeito à leitura feliz. Cria um vocabulário estatal e disseca o texto como magistrado, a emitir um juízo de valor. Nós, leitores afeitos à leitura feliz, nos desenvolvemos para ler o que nos agrada e aprendemos a estimular o que chamamos de “olhos de ler”. Olhos do coração, do vocabulário, sem trajes de magistrados, os olhos do prazer e de todas as possíveis interpretações e re-invenções.
Graças às forças do Universo, com uma linguagem clara, plena de lirismo nos chegam Sônia Moura e suas poesias publicadas no livro Entre beijos e vinho. Uma escritora perfeita para nós leitores-felizes. Se em seu livro anterior, Doze Mulheres Contam, celebrou o cotidiano do universo feminino narrando e metaforizando os fatos e o tempo através dos meses do ano, celebra agora, poetando, o amor feminino sensual-sexual e afirma “ quero o riso, quero a alegria/ quero o mundo para nós, para o amor e para o tesão”.
O erotismo de Sônia oscila entre o sagrado e o profano. Não se trata de opor, mas de transformar o profano em sagrado. Dessa forma, sacraliza a relação amorosa-sexual entre o homem e a mulher. Para ela, o amor é “ festa insana...com sabores divinos...gula de almas amantes” e “ Nesta orgia santa/ fizemos da cama/ nosso santo altar”.
Num mundo neo-liberal, mecanizado, individualista, esta autora ousa sonhar e afirmar que “ a fantasia não morreu”. Metaligüísticamente, define o seu poetar: “ O meu poema guarda a solidão de uma partida/ Os meus olhos não vêem o que é real/ Recrio nossa realidade no poema e no tema/ Jogo com o consciente e o inconsciente/ Faço um chiste com a minha dor”.
Estes poemas nos dão alento para sonhar e não ter medo do amar. Nos inspiram o respeito pelo nosso corpo, anseios e desejos. Assim, Sônia ordena: “venha para os meus braços/ pouse em nosso ninho/ ouça nossa música, degustando nosso vinho/ venha, amor meu/ venha pleno para os meus carinhos...”
Ao lermos, revemos nossa tentação de sermos poetas, escritores. Tornamo-nos leitores-criadores. Estabelecemos uma imagem poética, secreta, feliz e discreta com o belo texto e encontramos a energia para cumprir a ordem dada pela a autora e nos embalar entre o beijo e o vinho, a bebida sagrada

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