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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


"Uma bem desenhada ficção"


A bipolaridade do ser humano é o traço mais encantador do fato de sermos apenas humanos. Leitora do Barroco, aprendi a luta constante entre nossos opostos. Um não existiria sem o outro. Sem o ódio, não saberíamos o que é o amor. Não por acaso o poema Cântico Negro,de José Régio, é, dentre muitos outros, um dos meus prediletos.
O verso " nasci do amor que há entre deus e o diabo" traduz, para mim, a nossa fragilidade existencial.
Transcrevo, aqui, o que o jornalista Wanderley Soares publicou em sua coluna, no jornal O Sul, por ocasião do Natal de 2009. Um outro viés que nos coloca frente à nossa dualidade.


" Iguais
Aqui da minha torre, como um humilde marquês, todos os dias, tento descobrir os segredos dos escaninhos de um universo árido e amargo. Andejo dos becos da sarjeta aos salões da Justiça e, sem raridade, vejo, nos dois extremos, figurantes com princípios iguais. Em cada nova cena deste espetáculo imprevisível somente é possível ver que o leão nasce e morre leão, como acontece com a cobra, que nunca deixa de ser cobra.

A criatura humana, no entanto, traz, dentro de si, os instintos do cordeiro e da víbora. Nesta moldura, durante as festas religiosas - e, para os cristãos, o Natal é a comemoração maior - a idéia é a de que todos nós somos cordeiros irmãos. Trata-se, este momento, de um delicioso desejo e uma bem desenhada ficção. Valendo-me, então, deste hiato na aridez e na amargura do universo em que, a cada dia, vasculho, tento controlar, em mim, o cordeiro e a víbora e, sendo uma criatura comum, deixo aqui o meu poema e a mensagem de um Feliz Natal a todos os meus iguais".

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